Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Teresinha Maria Gonçalves, Vanessa Lopes e Bruno da Siva Silveira 182 milênio, deparamo-nos com um desafio global para redesenhar os rumos da humanidade. Esta problemática já havia sido levantada por Guattari no final da dé- cada de 80, com a publicação de “As três ecologias”. Com uma abordagem “ético-política”, definida por ele como “ecosofia”, seus argumentos se des- dobram a partir da coexistência de três sistemas ecológicos: meio ambiente, relações sociais e subjetividade humana. Já no início do livro, o autor deixa claro o tipo de conflito que colocaria em cheque nosso modelo civilizacional: O planeta Terra vive um período de intensas transformações técnico- -científicas, em contrapartida das quais engendram-se fenômenos de desequilíbrios ecológicos que, se não forem remediados, no limite, ameaçam a vida em sua superfície. Paralelamente a tais perturbações, os modos de vida humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma progressiva deterioração. As redes de parentesco tendem a se reduzir ao mínimo, a vida doméstica vem sendo gangrenada pelo con- sumo da mídia, a vida conjugal e familiar se encontra frequentemente ‘ossificada’ por uma espécie de padronização dos comportamentos, as relações de vizinhança estão geralmente reduzidas a sua mais pobre ex- pressão (GUATTARI, 1990, p. 7). Na hipermodernidade, falar em preservação da vida significa garantir um ambiente propício para implementação de um modo de vida sustentável habitando um mundo que seja minimamente civilizado em termos justiça social, racial e de equidade de gênero. Para isso, precisamos acionar um novo contrato social pautado na coletividade, bifurcando {bifurcado} do perigoso status quo que flerta com o autoritarismo que reflete a barbárie de nosso tempo. Ainda seguindo o pensamento de Guattari: A possibilidade de uma implosão bárbara não está de jeito nenhum ex- cluída. E se não houver tal retomada ecosófica (seja qual for o nome que se lhe dê), se não houver uma rearticulação dos três registros fundamen- tais da ecologia, podemos infelizmente pressagiar a escalada de todos os perigos: os do racismo, do fanatismo religioso, dos cismas nacionalitá- rios caindo em fechamentos reacionários, os da exploração do trabalho das crianças, da opressão das mulheres (GUATTARI, 1990, p. 16). No imaginário social, a barbárie se constitui a partir de atos de extrema violência, seja na esfera factual ou simbólica. Neste sentido, barbárie pode ser entendida como um dispositivo de oposição às premissas de um mundo civilizado. Módia e Vasconcellos (2005) explicam que a produção de senti-
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