Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Adilson Felicio Feiler 174 Magnus diz que o ideal sugerido por Nietzsche “[...] é a experiência do amor fati [amor pelo destino], na qual a pessoa ama sua vida, com todos os seus defeitos, tal como é” (MAGNUS, 2017, p. 56). Diante de quadros tão desafiadores, frutos de eventos aparentemente onipotentes, se depreende, em todo o instante, uma carga de forca capaz de se reinventar, ou seja, a sua capacidade de criar. Portanto, a resposta dada pelo que se supera e redime e a criaço artistica. A arte e o antidoto contra todo o conformismo passivo 10 , contra todo o pessimismo e sentimento de estar ven- cido. A arte ativa o desejo e a vontade de mais, de nunca estar saciado, de dar sempre um passo alem, de afirmar a vida como uma totalidade. “O mesmo impulso que chama a arte para a vida, como a complementaço e perfeiço da existencia que induz a continuar a viver” ( GT /NT, 3, KSA 1.36). Nietzsche viveu estes desafios com relaço ao seu quadro clínico: dian- te de suas terriveis dores de cabeca e estomago, teve que reinventar o seu dia a dia, seja pela produço intelectual e caminhadas, seja pela busca in- findavel por ambientes que fossem favoraveis ao seu estado de saude. O ciclo do retorno para ele, neste quadro clinico, mostrou-se tenebroso, o que ele assumiu com firmeza e disposiço afirmativa, tendo como resultado um produto intelectual profundo e proficuo. Assim, sua resposta diante do peso aparentemente intransponivel do fatum foi a redenço, pela sua capacidade estimulada em criar, transpor, reinventar. Estas ações representam uma for- ma de economia global da vida, a qual é impossível se não passar por uma dimensão ecológica integral, já que é somente dela que pode nascer o além do homem, ou seja, da terra, da natureza. Embora, como vimos no decorrer do capítulo, a economia ecológica integral não seja explicitamente mencio- nada por Nietzsche em seus escritos, dela é possível fazer uma inferência a partir, por um lado, da concepção da vida, entendida como ativação das forças que atinge um nível de plenitude, e, por outro, da sua concepção de grande política, aquela que, ao ultrapassar a moral gregária dos Estados-na- ção, atinge uma escala planetária, envolvendo a totalidade das forças de to- dos os seres vivos compreendidos como individualidades, ou seja, para além de uma dimensão de alteridade e solidariedade. Esta concepção de grande política, que melhor inspira a concepção de economia ecológica integral, instaura-se mediante quatro princípios: 10 Tudo o que inspira passividade conduz, de acordo com a compreensão de Nietzsche, à deca- dência. Por isso, a única forma de reverter o quadro decadencial, presente desde a dimensão fisiológica até a dimensão cultural, é interpor a atividade, a afirmação, o assenhoramento.
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