Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Nietzsche: das forças cósmicas à economia ecológica integral 173 E com lágrimas nos olhos ele vos pedirá uma dança; e eu próprio entoa- rei um canto para a dança: Um canto para dançar e zombar do espírito de gravidade, do meu al- tíssimo e poderosíssimo Diabo, do qual dizem ser ‘o senhor do mundo’ E eis o canto que Zaratustra entoou, enquanto Cúpido e as moças dan- çavam ( Za /ZA, II, O canto da dança, KSA 4.139) A dança é movimento, é força, é vida. Toda aquela força que penetra os poros de todos os seres que compõem o mundo, ao atingirem os do ser humano passam a se expressar em forma de criação artística. Neste sentido, o filósofo não é mais um simples filósofo, mas um filósofo artista. Aquele que superou uma maneira metafísica de compreensão do mundo para assumir uma maneira fisiológica; portanto, é fiel à terra, para dela emergir como além do homem. “Amo Aqueles que nao procuram atras das estrelas uma razao para sucumbir e serem sacrificados: mas que se sacrificam a terra, para que a terra um dia se tome do alem-do-homem” ( Za /ZA, Prefácio, 4, KSA 4.17). Este filósofo assume o peso mais pesado, sabendo que sempre é capaz pela superação, mediante a vontade de potência, a atingir pontos sempre mais culminantes de potência. Ademais, ele sabe que tudo o que viveu o tornará a viver um número interminável de vezes, pois tudo retorna – “[...] ó Zaratustra, quem tu és e tens de tornar-te: eis que és o mestre do eterno retorno – é esse agora o teu destino! (...) Vê, sabemos o que ensinas: que todas as coisas eternamente retornam, e nós sabemos com elas, e que eternas vezes já estivemos aqui, juntamente com todas as coisas. (Za/ZA, III, O convalescente, 2, KSA 4.275-6). O eterno retorno é o pensamento mais abissal que Nietzsche empreendeu, vivê-lo requer acolher o grande peso, não apenas sabendo, mas desejando que eventos promissores, mas também eventos difíceis, pesados retornarão. Viver cada grande evento desses requer despender um quantum de forças capaz de fazer com que se assuma o grande peso, não apenas acolhendo o fato, mas o amando, daí a fórmula ética de Nietzsche: amor fati . “Minha formula para a grandeza no homem e amor fati : nao querer nada de outro modo, nem para diante, nem para tras, nem em toda eternidade. Nao meramente suportar o necessario, e menos ainda dissimula-lo – todo idealismo e mendacidade diante do necessario -, mas ama-lo...” ( EH /EH, Porque sou tão esperto, 10, KSA 6.297). Diante do grande peso é preciso amar o fato, tal como se apresenta, e isso só é possível mediante a perspectiva do filósofo artista. Aquele que faz do grande peso do fato uma obra de arte inaugura, assim, uma concepção estética. Bernard
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