Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Adilson Felicio Feiler 170 [...] o sabio como o homem da inalterabilidade, impessoalidade, uni- versalidade da intuiço, como um e tudo ao mesmo tempo, com uma faculdade propria para aquele conhecimento invertido; eram da cren- ca de que seu conhecimento e ao mesmo tempo o principio da vida. Mas, para poderem afirmar tudo isso, tinham de enganar-se sobre seu proprio estado: tinham de se atribuir ficticiamente impessoalidade e duraço sem mudanca, desconhecer a essência daquele que conhece, negar a tirania dos impulsos no conhecer e em geral captar a razão como atividade plenamente livre, originada de si mesma; mantinham os olhos fechados para o fato de que tambem eles haviam chegado as suas pro- posições contradizendo o vigente ou desejando tranqüilidade ou posse exclusiva ou dominio (FW/GC, 110, KSA 3.470). A capacidade intuitiva leva em consideração elementos que escapam a uma análise puramente racional, como é, por exemplo, toda a dimensão que se depreende da fruição artística. A dimensão estética requer uma visão que se eleva para além da pura análise de dados concretamente situados. Trata-se de uma capacidade que compreende a interligação entre arte e ciência, “A capacidade para a clareza científica e para a transfiguração estética consti- tui, para Nietzsche, a arte filosófica 8 (STEGMAIER, 2013 p. 230). O viver artístico, o criar supõe uma vontade de ultrapassar os valores estabelecidos: “A vontade de potência. Ensaio de uma transvaloração de todos os valores” ( Nc /FP da primavera de 1888,14[78], KSA, 13.257). Ela supõe uma com- preensão que açambarque a realidade contemplada como um todo, mas, ao mesmo tempo, com profundidade e acuidade, com alcance ao mesmo tempo crítico e criativo, no intuito de proporcionar um alargamento de vi- são. Nietzsche confidencia em uma carta a Georg Brandes o quanto o povo alemão ainda carece deste alargamento de visão: Porventura você pensa que eu sou conhecido na pátria amada? Sou tra- tado lá como se eu fosse algo um tanto extravagante e absurdo, o que por enquanto não há nada necessário para levar a sério... Parece que eles farejam que eu não os levo nada a sério, e como eu poderia também hoje onde o “espírito alemão” se transforou em contradictio in adjeto (Contradição em adição)! – (Carta a Georg Brandes de 10 de abril de 1888, 1014, KGB 8.286). 8 A concepção filosófica Nietzschiana constitui, em última análise, uma concepção estética, de modo que o filósofo é compreendido como um criador, um artista, um filósofo artista.
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