Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Nietzsche: das forças cósmicas à economia ecológica integral 169 tâncias nas quais nasceram, sob as quais se desenvolveram e se modificaram” ( GM /GM, Prólogo, 6, KSA, 5. 253). Neste sentido, é aplicado um proce- dimento subsequente, o de estabelecer quais as avaliações das avaliações, até atingir uma que não pode ser avaliada, sendo esta não outra senão a vida. “A pergunta e até que ponto e propiciador da vida, conservador da vida, conser- vador da espécie, talvez mesmo aprimorador da especie” ( JGB /BM, 4, KSA 5.18). Diante deste critério, Nietzsche privilegia tudo o que a ela se adequa e a afirma, a saber, toda a dinâmica das pulsões e das forças. Por isso, numa dinâmica pulsional, a razão constitui obstáculo, pois limita a dimensão das forças ao proceder segundo critérios que separam, selecionam e estabelecem relações de causalidade. Para tanto, a razão, de acordo com esta concepção, não pode continuar servindo mais como critério, dela se deriva a “[...] moral como décadence ” ( Nc /FP da primavera de 1888, 14[66], KSA 13.251), mas um outro critério que, ao invés de operar divisões, estabeleça unidade em torno a uma concepção de totalidade. E qual seria este critério? Nietzsche entende que a intuição ( Intuition ) 7 , diferentemente da ra- zão, é capaz de operar a unidade que se espera para se refletir sobre a vida en- tendida enquanto uma concepção de forças. Esta unidade possibilita “[...] o homem intuitivo, digamos como na Grécia antiga, conduz suas armas mais poderosamente e mais vitoriosamente do que seu reverso, pode configurar- -se, em caso favorável, uma civilização e fundar-se o domínio da arte sobre a vida” ( WL /VM, 2, KSA 1.889). A intuição é uma maneira de se compreen- der a realidade da vida para além dos interditos que estabelecem divisões. A concepção de um homem intuitivo é capaz de penetrar com muito mais fe- cundidade e proveito naqueles meandros instransponíveis pela razão. Por ela se é capaz de exercitar uma dimensão bastante cara a Nietzsche, a dimensão psicológica, que vê um com olhar mais profundo que o da razão, por ser um olhar que atinge, para além da unilateralidade, a totalidade. Pela intuição se é capaz de estabelecer uma genealogia de todos os valores que permeiam a vida, diagnosticando-os e, com isso, neles constatando um dos grandes interditos que funcionam como obstáculos para que a vida possa se afirmar. A vida afirmada é condição para 7 A intuição é uma dimensão muito cara à Nietzsche: mediante essa capacidade o filósofo alemão vê como possível fazer jus a condição própria de filósofo. Esta dimensão, Nietzsche já desde a mais tenra idade, tem desenvolvido, como recorda Curt Paul Janz, ao fazer menção à sua paixão pela música. “A música é sua paixão inata: ‘No dia da Ascensão do Senhor – (provavelmente de 1854) – fui à igreja e ouvi o coro sublime do Messias’: o ‘Aleluia’!” (JANZ, 2016, p. 54).

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