Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Adilson Felicio Feiler 168 O velho problema teológico de ‘fé’ e ‘saber’ – ou, mais claramente, de instinto e razão – isto é, indagar se no que toca à valoração das coisas o instinto merece autoridade maior que a racionalidade”, a qual deseja que se avalie e se aja de acordo com motivos, conforme um ‘por quê’, isto é, segundo a finalidade e a utilidade – ainda é aquele velho proble- ma moral que surgiu primeiramente na pessoa de Sócrates ( JGB /BM 191, KSA, 5.112). Mas qual o motivo pelo qual sua oposição tão frontal contra a razão? Uma das razões para tamanha hostilidade à razão pelo filósofo reside no fato da maneira pela qual a razão tem conduzido os seus diversos traba- lhos reflexivos. Qual seja, a de separar, selecionar, estabelecer critérios sob a chancela da relação causa e efeito, com implicações diretas sobre a questão dos valores, que se expressam, inclusive na relação culpa e castigo. Nao somente o colocaram nas conseqüências de nossas maneiras de agir – e como ja e apavorante e contrário a razão entender causa e efeito como causa e castigo! -, mas foram mais longe, e despojaram a pura contingên- cia do acontecer de sua inocência, com essa infame arte de interpretação do conceito de castigo. Sim, levaram tao longe o desatino, a ponto de mandar sentir a própria existência como castigo ( M /A, 13, KSA, 3.26). Ora, se a razão procede em constranger, selecionar, separar, o faz se- gundo o ditame de determinados valores. Por essa razão, Nietzsche vê a necessidade de detectar a origem e finalidade de tais valores, avaliando a forma pela qual nasceram, se desenvolveram e frutificaram, o que leva a se constatar que cada valor é plasmado de acordo com determinadas avalia- ções. A este procedimento original, que funciona como base de detecção de valores, Nietzsche denomina genealogia 5 – “[...] necessitamos de uma crítica dos valores morais, o próprio valor desses valores deverá ser colocado em questão 6 – para isto é necessário um conhecimento das condições e circuns- 5 A genealogia é um procedimento inédito na filosofia, e Nietzsche é o seu protagonista. Por este procedimento, estudam-se as condições de criação dos valores, colocando-se em questão os cri- térios de valoração e avaliação dos valores, a fim de se atingir o valor que não pode ser avaliado. 6 Quando Nietzsche vê a necessidade de se colocar em questão o valor dos valores está condu- zindo o niilismo a sua radicalização, pois o valor de todos os valores que têm fundado a cultura ocidental não é outro senão Deus. No entanto, mesmo que Deus já não faça mais parte da cultura, muitos de seus valores continuam a influenciá-la: a ciência moderna passa a ocupar o lugar de Deus. Ashley Woodward, por essa razão, diz que “[...] embora não acreditassem em Deus, eles ainda acreditavam, em grande medida, em muitos dos valores da interpretação moral do cristianismo” (WOODWARD, 2016, p. 27).
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