Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Nietzsche: das forças cósmicas à economia ecológica integral 167 Na dinâmica da intuição, a ordem exclusiva dá espaço a uma ordem inclu- siva, pois o todo da vida é assumido em sua plenitude. A normatividade que brota da natureza atinge uma dimensão integral, pela “[...] necessidade do sentimento de poder , que somente brota de vez em quando, em fontes inesgotáveis, nas almas dos príncipes e poderosos, mas também, em não em menor escala, exatamente nas classes mais baixas do povo.” ( M /A, 189, KSA, 3.161-2). Desse modo, por mais que o pensamento de Nietzsche seja classificado como aristocrata, este não privilegia uma classe social em detrimento de outra, mas procura despertar o sentimento de poder em ambas. Desse sentimento de poder, tomado em escala integral, se poderá ascender ao nível de uma política que envolva as forças em sua plenitude, ultrapassando uma razão que divide e exclui, própria da razão da pequena política dos Estados-nação gregária, para atingir uma intuição que une e inclui de uma grande política. 2. Da razão à intuição, uma filosofia de totalidade A razão tem sido o critério fundamental no que diz respeito à dimen- são do filosofar. Inclusive, diversos livros didáticos de história da filosofia atribuem o início da filosofia a partir do advento da razão, o que acontece, de acordo com essa leitura, com Tales de Mileto. Bem, se este é realmente o critério da filosofia, então, antes disso, ou seja, no período dos gregos antigos, não há filosofia. A mitologia grega, segundo esta concepção, não se enquadra nos critérios da filosofia. Eis um dos grandes contrassensos que o filósofo alemão, acertadamente, pontua. No entanto, a maneira pela qual o faz causa certa estranheza, pois resume a filosofia apenas a este período grego antigo, de modo que o que vem de Sócrates em diante não passa de uma “tartufice” da razão, uma mentira e engano. “A rígida e virtuosa tartufice do velho Kant, com a qual ele nos atrai às trilhas ocultas da dialética, que encaminham, ou melhor, desencaminham, a seu ‘imperativo categórico’” ( JGB /BM 5, KSA, 5.19). Nietzsche recorda Kant como um exemplo de fa- zer de sua razão moral, pelo imperativo categórico, uma falsa piedade, uma hipocrisia. Por essa razão, alguns radicalismos que, por sua vez, implicam em reducionismos são alvos de suspeitas, razão pela qual assim é também reconhecido o filósofo alemão. Nietzsche coloca sob suspeita tudo o que constitui constructo da razão.

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