Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Nietzsche: das forças cósmicas à economia ecológica integral 165 cados, mais fugazes presentes da vida” ( VM /OS, Prólogo, 5, KSA 2.375). A vida deve ser afirmada em todas as situações, principalmente naquelas em que se manifesta cansaço dela. Vida é capacidade de expressão de forças e, para que as forças possam se sustentar, é preciso do movimento, o seu motor e combustível fundamen- tal, “[...] a suprema intensificação de suas forças e, com isso, nessa aliança fraterna de Apolo e Dioniso 4 , o ápice das finalidades artísticas apolíneas, assim como das dionisíacas” ( GT /NT, 24, KSA 1.150). Pela aliança entre antípodas, a força se estabelece, a tragédia tem seu início e a vida se afirma. Assim, pelo movimento, a força se manifesta por entre os poros de todos os seres que compõem o mundo, desde as pedras, plantas, animais até o ser humano. Neste último, as forças que transpassam os seus poros se expressam como vontade de potência, que é a vontade de criar, ou seja, o seu produto criador é a produção estética. De acordo com André Luís Mota Itaparica, “Nietzsche concebe a vontade de potência como pontos de força dotados de um querer interno” (ITAPARICA, 2004, p. 109). Consiste num querer interno que se plenifica a cada instante de intensifi- cação das forças. A filosofia inteira de Nietzsche consiste numa concepção de forças. Forças estas que a todo instante buscam assenhorar-se, afir- mando-se frente às demais, num jogo eterno de luta. E e dessa luta que a vida poderia ser sustentada. Assim, enquanto houver força ha vida, caso contrário ha morte e inanição. Interessante notar qual o contexto em que Nietzsche apresenta estas concepções de força: um contexto de fraqueza, doença, degenerescencia fisiologica, o que implica em decadência cul- tural. O próprio exercício do filosofar e apresentado pelo filósofo como uma forma concreta de manifestação de força contra a fraqueza. Por essa razão, o filósofo “[...] levou à consideração de ‘uma nova saúde’, mais forte, mais espirituosa, mais persistente, mais ousada, mais prazerosa do que todas as saúdes até agora” (STEGMAIER, 2013, p. 212). Numa concepção filosófica organicista, como a de Nietzsche, o grande obstáculo a ser enfrentado reside na insistência de se instaurar pressupos- tos próprios de modelos filosóficos metafísicos. Contudo, e curioso o fato de como se pode refletir filosoficamente afastando-se de todo e qualquer pressuposto. No caso de Nietzsche, talvez o único pressuposto possível seja a realidade de que o movimento, caracterizado pelo jogo entre oposição e 4 A noção básica das forças provém das disposições artísticas fundamentais do ser humano, à saber, a apolínea e a dionisíaca.

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