Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Josenir Lopes Dettoni 156 mudas de gravíssimas desigualdades, quando se pretende obter bene- fícios significativos, fazendo pagar ao resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental (LS, 36). Ora, as mais consistentes evidências científicas já demonstraram a rea- lidade das mudanças climáticas e indicaram a impossibilidade da manuten- ção do atual padrão de consumo “[...] dos países mais desenvolvidos e dos sectores mais ricos da sociedade, onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis inauditos. Já se ultrapassaram certos limites máximos de explo- ração do planeta, sem termos resolvido o problema da pobreza” (LS, 27). Contudo, perduram grandes resistências em reduzir radicalmente as emissões de carbono, com a consequente mudança no estilo de vida. “De modo especial, o aspecto econômico envolvido no tema tem demonstrado uma lógica insuficiente para que haja efetivação de nossa responsabilidade ecológica [...]” (DETTONI, 2017, p. 99). Essa lógica estimula, inclusive, a negação da existência das mudanças climáticas ou da responsabilidade hu- mana sobre elas. “Nem todo mundo aceita que o aquecimento global está acontecen- do e muitas pessoas negam que a mudança climática depende de nós. Cerca de 47% dos americanos, 37% dos chineses e 26% dos britânicos acreditam que é uma conspiração por parte do lobby verde para deter ou reduzir o desenvolvimento global [...]” 10 (TALBOT, 2012, p. 425). O negacionismo ambiental gerado e difundido por interesses econô- micos se fortalece no “[...] falso pressuposto de que «existe uma quantidade ilimitada de energia e de recursos a serem utilizados, que a sua regeneração é possível de imediato e que os efeitos negativos das manipulações da ordem natural podem ser facilmente absorvidos» 11 ” (LS, 106). Em contraponto a esse negacionismo, a Laudato Si` sustenta que “as mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo ac- tualmente um dos principais desafios para a humanidade” (LS, 25). Essas implicações abrangem também discussões como: globalização econômica; conceito de propriedade responsável; inteligência artificial, automação e di- minuição do mercado de trabalho; mudanças necessárias nos modelos de 10 Tradução nossa. 11 Ver: Pontifício Conselho Justiça e Paz, (2004).
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