Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Filosofia Ecológica Integral: ampliando a reflexão 153 futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos” (LS, 13). Tal mudança deve passar necessariamente pela instau- ração de políticas públicas que respondam a esse grande desafio. Contudo, infelizmente constatamos a preocupante dificuldade de os interesses das ge- rações futuras se fazerem representados em nossos sistemas de decisão. Atento a esse tema, Jonas (2006) levanta uma importante indagação: “Que força deve representar o futuro no presente? Essa é uma questão para a filosofia política” (p. 64). É o que passaremos a discutir a seguir. 1.3 Filosofia Política Como campo de investigação filosófica acerca da vida humana em sociedade, a Filosofia Política tem hoje o grande desafio teórico de deba- ter e pensar soluções para problemas inéditos, próprios de nosso tempo. As mudanças que o avanço tecnológico trouxe para a vida contemporânea impactam fortemente a nossa ação pública. A esse respeito, Jonas (2006) destaca que “nunca antes a política pública teve de lidar com questões de tal abrangência e que demandassem projeções temporais tão longas. De fato, a natureza modificada do agir humano altera a natureza fundamental da política” (p. 44). Acerca do tema socioambiental, é preocupante a incapacidade de nos- sos regimes políticos e sistemas de governo em considerarem e respeitarem o interesse das futuras gerações, por exemplo. Ocorre que as consequências de nossas decisões avançam no tempo e delas participam não apenas nossos contemporâneos. As gerações futuras não estão presentes, não votam, não têm poder político, não podem opor-se às nossas decisões. Essa enganosa prodigalidade que vi- vemos significa falência, penúria e sofrimento para as gerações futuras. A maioria dos governantes de hoje estará morta antes que o planeta sofra os efeitos mais graves das chuvas ácidas, do aumento global da temperatura, do esgotamento da camada de ozônio, da incontrolável desertificação, do desaparecimento de número incontável de espécies e da consequente perda da biodiversidade (SIQUEIRA, 1998, p. 53-54). Ora, apesar de conseguirmos vislumbrar uma grave crise de dimensões globais, infelizmente parecemos estar diante de “[...] um poder que será recordado pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário fazê-lo [...]” (LS, 57). Aliás, o presente cenário internacional indica estarmos nos dirigindo em rumo contrário ao que deveríamos. Com efeito, “a situa-

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