Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Josenir Lopes Dettoni 150 à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres. Esta opção implica tirar as consequências do destino comum dos bens da terra [...]. Basta observar a realidade para compreender que, hoje, esta opção é uma exigência ética fundamental para a efectiva realização do bem comum (LS, 158). E essa atenção especial aos mais pobres não se limita apenas às rela- ções entre os indivíduos. Nesse sentido, um olhar mais amplo é lançado no campo da ética das relações internacionais. Sobre isso, destaca-se o tema das dívidas ecológicas históricas entre os países (LS, 51), bem como sua necessá- ria e diversificada responsabilização decorrente (LS, 52). Aqui se vincula igualmente o tema do respeito aos povos originários. Ao se dirigir à Amazônia, por exemplo, Francisco declara enfaticamente que “os povos nativos viram muitas vezes, impotentes, a destruição do ambiente natural que lhes permitia alimentar-se, curar-se, sobreviver e conservar um estilo de vida e uma cultura que lhes dava identidade e sentido” (QA, 13). Também fragilizados são os outros seres vivos que compõem a biodi- versidade, o que demanda uma postura responsável de nossa parte. A esse respeito, entende-se que “[...] embora o ser humano possa intervir no mun- do vegetal e animal e fazer uso dele quando é necessário para a sua vida, [...] as experimentações sobre os animais só são legítimas «desde que não ultrapassem os limites do razoável e contribuam para curar ou poupar vidas humanas» 4 ” (LS, 130). A Bioética deve desempenhar aqui um importante papel fomentador de reflexões em torno de temas como ética ambiental, ética animal e ética do consumo. De modo mais específico, uma Bioética Ecológica Integral deve ter como um de seus princípios que “é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas 5 ” (LS, 130). Cabe ainda assinalar, dentro desse conjunto de reflexões preambulares sobre traços de uma Ética Ecológica Integral, a relevante e necessária discus- são acerca de nossa responsabilidade para com as próximas gerações. Com efeito, “a noção de bem comum engloba também as gerações futuras” (LS, 159), motivo pelo qual devemos aprofundar o debate sobre ética intergera- cional. “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer? [...] Se não pulsa nelas esta pergunta de fundo, 4 Catecismo da Igreja Católica, 2417. 5 Catecismo da Igreja Católica, 2418,
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