Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Decolonialidade e contrarracismo: o “ser branco” no horizonte da descolonização das mentes 139 Brasil, mas ela se arma ferozmente quando este debate conduz à políticas afirmativas para mais da metade da população que foi historicamente negada e defraudada em sua dignidade, por absurdas políticas de branqueamento. A superação da branquidade por uma postura de branquitude será a salvação da academia, entendendo-se por branquitude a busca de “real realidade” do processo histórico de construção da estrutura social brasileira. Nessa busca da “real realidade”, os “tidos brancos” também se deixam desve- lar, os brancos também aceitam ser “objeto de estudo”, assim como sempre com facilidade trataram os negros, os indígenas etc. Nessa busca da “real realidade” os “tidos brancos” não têm medo de encarar o sofrimento e o esmagamento social (“rolo compressor”) que foi legado para os descendentes dos africanos escravizados no período mais longo de escravidão, conhecido na história do continente americano e continua depois desse período. A percepção é que os intelectuais brancos, muitas vezes de forma ingê- nua e talvez por insegurança, acabam reproduzindo a ideologia dominante que querem apagar da memória brasileira, da sua história, e querem contar um lindo “conto de fadas” para a mente brasileira, para usar expressão de Jessé Souza (2015). Neste “conto de fadas”, a branquidade tem o seu amparo feliz. Aliás, é impressionante como a prática de dissimulação, de silencia- mento em relação ao conflito racial continua sendo perenizado no meio acadêmico. Precisamos de acadêmicos que se posicionem na contramão dessa en- ganação. As investigações científicas, se forem efetivamente científicas, e as inovações técnicas, se forem efetivamente inovações, terão que assumir co- locar-se na contramão dessa enganação. Quando o cientista branco ou “tido branco” assume uma verdadeira postura de cientista livre de seus medos e encara a “real realidade”, ele estará tendo uma postura de branquitude. É a postura da “mente branca descolonizada”. As academias necessitam sempre mais de “mentes brancas descolonizadas” para que nelas possam ter efetivo espaço para todos; para que os negros e os indígenas não necessitem de “sal- vo-condutos” especiais para exercerem livremente a sua condição intelectual nas academias, de igual para igual. A “Educação das Relações Étnico-raciais” deve ser efetiva para as men- tes brancas, em primeiro lugar. Enquanto isto não acontece, a história con- tinuará sendo ditada pela branquidade, que empurra os negros para a mar- gem, tratando-os sempre como problemas e incômodos. Em uma cultura de branquidade os negros sempre serão as vítimas das posturas inconsequentes e problemas pessoais, interpessoais e coletivos dos brancos. Além disso, os

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