Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Adevanir Aparecida Pinheiro, Maria Nilza da Silva e José Ivo Follmann 138 O projeto neoliberal volta com toda força em forma de “rolo compres- sor”, banindo as oportunidades sociais e educacionais criadas e as conquistas sociais e raciais que estavam tentando romper os rastros da escravidão, dei- xados pela colonização e pelo poder do colonizador branco europeu. Para Jessé Souza (2017), só teremos efetivas condições de entender o que vem sucedendo hoje no Brasil se formos capazes de avaliar a pesada herança, que pesa sobre nós, dos quatrocentos anos de escravidão e da estrutura social e do jeito de ser das distintas classes brasileiras decorrentes daquele período. Somos uma estrutura de classes onde o racismo de classes está tremenda- mente evidenciado. A sociedade brasileira está historicamente habituada, portanto, a ser uma sociedade elitizada na brancura. O conceito de branquidade ajuda-nos a expressar essa realidade, pois reflete a mente branca elitizada como men- te de senhor de escravos, que na verdade não considera a “ralé brasileira” de hoje como gente digna de consideração e de interlocução. Não é por acaso que a grande maioria dessa “ralé brasileira”, da qual nos fala Jessé Souza (2018), é constituída por afrodescendentes, descendentes de africanos escravizados. 3.3 Como se manifesta na Academia? A sociedade elitizada na brancura se assusta com a presença de afro- descendentes no meio acadêmico. A branquidade também nesses meios se manifesta, mesmo sendo de forma sutil e respaldada em argumentos “cientí- ficos”. É dentro dos meios acadêmicos, por meio de estudos e pesquisas, que se pode perceber a insegurança de intelectuais e pensadores em sua maioria “brancos”, que se escondem atrás das ideologias de matrizes teóricas e cientí- ficas euro-referentes. Entende-se como natural que a inclusão aconteça, con- tanto que não se mexa na “ordem” estabelecida e na estrutura de privilégios já existente e consolidada. A academia, marcada pelo espírito da sociedade elitizada na brancura, tem pavor de se expor nas discussões de temas raciais, sobretudo quando voltados para as políticas afirmativas e a inclusão dos afrodescendentes no ensino superior. Em nossos diálogos na construção do presente texto, conseguimos avançar nas percepções sobre a relação branquidade/branquitude dentro das academias brasileiras. Reproduzimos aqui alguns aspectos deste diálogo. A academia gosta de refletir gostosamente sobre o multiculturalismo, sobre a importância de acolher o outro, sobre a riqueza da diversidade cultural do
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