Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Decolonialidade e contrarracismo: o “ser branco” no horizonte da descolonização das mentes 135 Mas não é só o espaço escolar que educa (ou deseduca). Nos estudos de Dijk, entendemos que os referenciais culturais europeus, embranqueci- dos, não estão presentes apenas no mundo das academias: sua produção de conhecimentos e seus efeitos deletérios no processo educacional estão em todos os níveis. Eles estão, também, nos meios culturais como a música, o carnaval, a culinária, os padrões de vestes e as diversas formas de apresenta- ção, manifestação e diversões populares. O autor fala do carnaval, lembrando uma música muito propalada e tocada pelos foliões em Salvador, o estado em que se conta com a grande maioria dos descendentes de africanos. A cantora Daniela Mercuri, branca de descendência europeia, canta a música: “ A cor desta cidade sou eu... o canto desta cidade sou eu”. Parece uma contradição e alienação branca, quando os negros que são a grande maioria, são colocados em total invisibilidade. Isto acontece na música, na culinária, na própria identificação da cor e, sobre- maneira, da sua história. Aí vem aquela brincadeira por meio da pergunta: “ Será que deu um branco em Salvador, nas músicas, na cultura, na culinária, na dança, na capoeira? ”Para Dijk: A cor desta cidade... o canto desta cidade...são eles e elas... (CONCEI- ÇÃO, 1996, p. 191-192). A notícia era acompanhada de fotos de 58 “personalidades” de Salvador, entre elas nenhum negro, numa cidade na qual os negros correspondiam a 85% da população, segundo o censo de 1990 (DIJK, 2008, p. 93). 3. Retomando os conceitos de branquidade e branquitude. A construção de uma história única e uma identidade surgida em meio à política de branqueamento gerou diversos conflitos e rasuras (abafamen- tos) na cultura dos descendentes de africanos e povos originários. Os “tidos brancos” por sua vez foram tratados como os únicos existentes e sujeitos da história brasileira e pode-se dizer desta grande parcela do mundo ociden- tal, onde se alastrou a colonização de forma cruel e excludente das demais culturas étnicas. Conforme já registravam, em 2002, Iray Carone e Maria Aparecida Bento: O branqueamento passa a ter um outro tratamento a partir de meados de 1940, quando surge, na Universidade de São Paulo, um grupo de es- tudiosos tais como Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Fernando Hen-
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