Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Decolonialidade e contrarracismo: o “ser branco” no horizonte da descolonização das mentes 127 É de nosso entendimento que a Educação das Relações Étnico-raciais teria a grande função de contribuir, como aliás deveria ser toda a educação, por passar o Brasil a limpo e desencadear verdadeiros processos de identida- de, ou processos de desalienação em termos de relações étnico-raciais. Ou seja, existe um grande peso de alienação presente na sociedade brasileira e que limita e aprisiona as mentes e os corações de toda a população brasileira, brancos, negros e indígenas, sobretudo as mentes e corações dos sujeitos brancos ou dos “tidos brancos”. A alienação está intimamente ligada à força exercida pelo poder do colonizador ou colonialidade nas mentes e posturas éticas. Trata-se de algo muito vivamente presente no cotidiano da sociedade. São inúmeras as situa- ções percebidas e vividas no dia a dia dos sujeitos que originalmente vieram da cultura da brancura que colonizou as mentes e as posturas éticas dos brasileiros, que afetou de forma negativa as relações de dominação colonial dos sujeitos brancos sobre os de outras culturas e aqui basicamente pesou so- bre a cultura dos sujeitos de descendência africana, pois mediado por quase quatro séculos de escravidão. Vivemos em uma sociedade de classes e de privilégios postos para os “tidos brancos”, alienados de sua própria identidade e alienados com relação às raízes reais do Brasil. O eurocentrismo intrínseco retoma suas forças e causa a devastação das identidades étnicas que são mutiladas pelos poderes políticos e econômicos, a partir do momento em que os méritos e os privi- légios aparecem de forma violenta e abastecida por força do branqueamento da sociedade de classes e que, ao mesmo tempo, silencia e enfraquece as diferentes formas de descolonização. As ideias que buscamos sistematizar neste artigo não fogem do que Jessé Souza chama de herança da escravidão. Os dilemas que se vive hoje na sociedade e no mundo inteiro, ao menos em sua face ocidental, advêm desta longínqua problemática: de um lado, a herança da escravidão centrada nos descendentes de escravizados e, de outro lado, a patologia que nunca se des- vencilhou da classe média branca sempre avaliada como a superior. Quando falamos em dilemas, não estamos falando de algo distante, mas de algo que está muito presente no dia a dia de nossas práticas e modo de pensar, agir e se manifestar em nossa sociedade. Os negros e indígenas são, de certa forma, forçados a viver processos identitários de outro, através da educação dada pelo “tido branco” que pre- domina na formação educacional brasileira. Nesse contexto, todos vivem processos de alienação, tanto históricos quanto identitários, pois não há

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