Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Adevanir Aparecida Pinheiro, Maria Nilza da Silva e José Ivo Follmann 126 autor que nos fez repensar os problemas causados pelo tratamento dos “tidos brancos” com relação aos negros, sobretudo os antropólogos, sociólogos, psicólogos e outros, que muitas vezes difundiram visões ideológicas distorci- das dos sujeitos negros. Retomando o pensamento de Guerreiro Ramos, são visões que denotam sintomas de recalque psicológico ou patologia. Trata-se de um quadro patológico que envolve toda uma dinâmica psicológica. São limites de intelectuais “tidos brancos” que colocam os intelectuais negros num segundo plano ou lugar de problema (social e racial) e não para estar partilhando par a par dos espaços dos saberes intelectuais e teóricos, em pé de igualdade. Isto chega ao extremo equívoco quando os próprios “tidos brancos” se consideram mais legitimados teoricamente para o estudo da história, cultura e identidade dos negros. É triste a constatação que, por dentro deste esforço perverso e usurpa- dor, está presente um profundo processo de alienação, confirmando a pato- logia social do branco brasileiro, mas também impregnando grande parte da sociedade, inclusive negros. Alienação porque facilmente são vítimas do viés euro-referente. Patológico porque pode, em muitos casos, ser uma espécie de manifestação constrangida de algo mal resolvido. Trata-se de algo enraizado, inclusive, em práticas pedagógicas alienadas nas escolas e universidades. Chama a atenção que, quando se trata da problemática da população negra, os “tidos brancos” são animados, escrevem com entusiasmo, publi- cam, dão palestras, realizam seminários e atividades voltadas para a história dos negros ou afrodescendentes. No entanto, quando se vai tratar da temá- tica dos “tidos brancos”, das políticas de branqueamento ou do tema do racismo, os sujeitos brancos apresentam uma reação de rejeição, de desco- nhecimento e de constrangimento, se fechando até para o diálogo. Temos a hipótese que nisto pode estar manifesta (ou escondida) aquilo que Guerreiro Ramos chama de “patologia social do branco brasileiro”. Diversas leituras, buscas teóricas e diálogos intelectuais e metodológi- cos despertaram em nós uma preocupação que não nos deixa calar. Como esses sujeitos “tidos brancos” vão fazer parte da educação das relações étni- co-raciais e estudar uma cultura de sujeitos que eles mesmos, ainda hoje, continuam tratando como problema? Se os próprios “tidos brancos” não se encorajam para conhecer a sua própria história, identidade e as reações patológicas que os limitam, como vão se comportar (posicionar verdadeira- mente) diante da inclusão dos negros neste mundo que sempre foi protegido pelas matrizes e teorias científicas ainda colonizadoras e embranquecidas? Como vão fazer isto sem primeiro se reeducar radicalmente?
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