Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Decolonialidade e contrarracismo: o “ser branco” no horizonte da descolonização das mentes 125 aprofundamento distorcido e apresentado de forma teórica, cega e falseada por não conhecer a si próprio. Chega-se ao ponto de ver Guerreiro Ramos, que foi um dos maiores sociólogos (não reconhecido) em sua época, mais como um problema de estudo, enquanto negro que busca espaço no meio acadêmico, do que propriamente considerar as suas contribuições teóricas. Isso faz pensar como este ser branco, que estuda o outro, como ele mesmo estudará a si próprio? Como reagiria vendo-se objeto de estudo de um ne- gro, por exemplo? Esta é uma pergunta que vem tomando sempre maior força em nossos estudos e pesquisas, quando colocamos a problemática da decolonialidade ou da descolonização das mentes e da temática do “ser bran- co” em nossa sociedade. As pesquisas realizadas pelo viés de pesquisadores negros no Brasil vêm demonstrando que é necessário intensificar as produções que desvendam os verdadeiros conhecimentos, tanto sobre os diferentes como sobre sua pró- pria história e identidade. Nos vícios que se impuseram nas academias ficou marcado que os negros são tratados como um “problema” e os brancos como os que estudam este problema. Pouco se conseguiu avançar no sentido de todos serem efetivamente sujeitos e não objetos de saber, e, diga-se, de mui- tos saberes. Neste sentido, citado por Barani Jr. (2011), Guerreiro Ramos sugere que (...) os estudiosos deveriam se afastar dos falsos problemas e tematizar as ‘verdadeiras’ questões, ver que algo seria o ‘negro-tema’ e o outro, distinto, o ‘negro-tema’. O negro-tema é uma coisa examinada, olhada, vista, ora como ser mumificado, ora como ser curioso, ou de qualquer modo como um risco, um traço da realidade nacional que chama a atenção. O negro-vida é, entretanto, algo que não se deixa imobilizar, é despistador, protéico, multiforme, do qual, a verdade não se pode dar por definitiva, pois é hoje o que não era e será amanhã o que não é hoje (RAMOS apud BARANI JR., 2011, p. 112). Essas duas definições, “negro-tema” e “negro-vida”, muito bem expli- citadas por Guerreiro Ramos e retomadas aqui por Junior, dizem respeito à questão do “objeto” e do “sujeito”. Os negros sempre foram de fato tratados como “objeto” em termos de ciência, em nossas academias. Nas pesquisas e nos estudos atuais, autores negros e autoras negras continuam apontando os problemas de racismos e práticas racistas que sempre estiveram presente na sociedade e nas áreas educacionais e, sobretudo, nos tratos para com a população negra, alvo de colonização que perdura. Guerreiro Ramos foi um
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