Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Decolonialidade e contrarracismo: o “ser branco” no horizonte da descolonização das mentes 123 Aníbal Quijano, Ramón Grosfogel, Petronilha Gonçalves da Silva, Octávio Ianni, Florestan Fernandes, Iray Carone, Alberto Melucci, Frantz Fanon, Vron Ware, Teun A. van Dijk, Djamila Ribeiro, Maria Aparecida Bento e Jessé Souza. 1. A patologia social do branco no berço de uma sociedade alienada Como já sinalizamos, no atual momento vivido pelo Brasil, de total descontrole ideológico e com uma virada para um país comandado por um propósito neoliberal tardio, cujos equívocos são evidentes, não há como ini- ciar este debate sobre a temática da patologia social e racial existente sem termos muito presente em nosso horizonte o que vem sucedendo no dia a dia de nossa sociedade. Vivemos em um contexto marcado por setores da classe média elitizada que se levantam com toda eloquência e despudor em suas manifestações racistas. A sociedade brasileira parece estar sendo, de certa forma, implodida em sua real realidade, por força de realidades histo- ricamente escondidas que extravasam e são escancaradas a céu aberto. Abu- sos, arbitrariedades e racismos midiáticos se transformaram no cotidiano de nossa sociedade, com fortes marcas de autoritarismo e, segundo alguns entendimentos, com evidências de fascismo. Uma frase de Marilena Chauí pode nos ajudar a ilustrar este início de reflexão. Ao se referir à classe média, em maio de 2013, a autora disse: “clas- se média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética, porque é violenta, é uma abominação cognitiva porque é ignorante” (CHAUÍ, 2013). A referida frase é uma provocação profética que contribui para o en- tendimento do momento atual conturbado de nosso país, quando se vive uma verdadeira cultura de desmanche da república e da democracia. Vive- mos tempos de extermínio das políticas públicas e sociais, desenhando-se, com evidências, a morte lenta da vida democrática e construção cidadã, ain- da mal saindo de sua “adolescência”. Para a maioria da população negra, isto não passa da reafirmação branca de uma “democracia elitizada”. O “mito da democracia racial” já não se sustenta. É uma canoa que está inundando de água por todos os lados. Uma certa elite branca extremista passa a ter espaço e, sem pudor, se faz explícita em suas intenções. Políticas que recentemente foram criadas para mudar a dinâmica discriminatória e excludente do nosso

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