Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Decolonialidade e contrarracismo: o “ser branco” no horizonte da descolonização das mentes 121 ser um privilégio e méritos, ainda distorceu a história dos negros levan- do-os acreditarem no mito de democracia... E nós como branco, nos tornamos os superiores, como pode uma coisa dessa”? (Depoimento de aluno em avaliação da atividade acadêmica na Unisinos, 2015/2.) “O pior é que esta política de branqueamento atingiu nossas mentes e nossas vidas e não vai ser fácil tirar esse aprendizado de ser branco no Brasil e saber que nesta América Latina quem vivia antes eram os povos indígenas, depois foram os africanos trazidos para ser escravi- zados e ser submetidos aos poderes de brancos, que nem sabem o que são... Isso para nosso aprendizado sem racismo vai levar muitos anos ainda”. (Depoimento de aluno em avaliação da atividade acadêmica na Unisinos, 2016/1). Um autor em grande evidência no debate público, hoje, no Brasil, é o sociólogo Jessé Souza, o qual, em uma de suas obras recentes “A Elite do Atraso: da escravidão à lava-jato” (2017), traz uma construção teórica de grande pertinência para a compreensão da sociedade brasileira, sua dinâmica interna e sua estrutura de classes. Segundo este autor, a chave para entender o Brasil está na maneira como a sociedade brasileira viveu e se estruturou ao longo do período de escravidão. Muito embora este autor não apresente explicitamente a temática do “ser branco” na nossa sociedade, é um aceno para a lógica desta problemática ainda não suficientemente discutida e apro- fundada pelos próprios intelectuais ou sujeitos “tidos brancos”, muitas vezes escravos do seu embotamento branco. Em poucas palavras, podemos dizer que nós somos reflexos da escravi- dão. O nosso espelho é a escravidão. O longo período de escravidão, segun- do Jessé Souza, formatou o modo de ser do brasileiro, fazendo com que nem sequer estranhemos o feroz racismo de classe e racismo estrutural que marca o nosso cotidiano. Atualmente, os pobres na sociedade brasileira, cuja maio- ria é negra, são desprezados e até objetos de ódio, assim como eram no tem- po da escravidão os negros escravizados. Esta chave de leitura inspirada em Jessé Souza vem reforçada, em grande parte por aquilo que um dos maiores intérpretes da “questão social” do Brasil, o sociólogo Octávio Ianni (1989) já dizia. Segundo ele, para entender a questão social no Brasil, é necessário colocar a questão racial no centro 5 . 5 Além das práticas em sala de aula e da pontuação certeira desses autores, Adevanir A. Pinheiro ampliou a percepção em relação à questão, junto às realidades de Cabo Verde e Angola e de Colômbia, Peru e República Dominicana.
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