Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Danilo R. Streck, Camila Wolpato Loureiro e Carolina Schenatto da Rosa 114 o humano e o natural, que atravessou os séculos marcando profundamente o pensamento político-pedagógico no continente. É possível encontrá-la nas teses anti-imperialistas de José Martí (SILVA, 2018), nas ideias ecossocia- listas de José Mariátegi (MESQUITA; ADOUE, 2012), nas pedagogias de Paulo Freire (DAMO et al., 2012), na Teologia da Libertação (BINGE- MER, 2020), no movimento Zapatista (GROSSI, 2013) e nas discussões promovidas pela modernidade/colonialidade (SALGADO; MENEZES; SANCHÉZ, 2019), por exemplo. Sob diferentes feições, em diferentes paí- ses e épocas, o pensamento latino-americano desenvolveu-se a partir do que convencionamos chamar de ética ecossituada. Uma ética que é ecológica, pois é integradora, reconhece a relação de respeito, codependência e complementariedade entre as diferentes formas de vida na terra. Uma ética que é situada, pois enfrenta os problemas de seu tempo, assumindo um papel de resistência e denúncia/anúncio frente ao colonialismo e às nossas heranças (de)coloniais. É uma ética ecossituada, portanto, porque é historicizada, é um elo entre passado, presente e futuro; porque tem como princípio a não neutralidade, a coerência e a criticidade e tem como horizonte político-pedagógico a formação humana para estar no mundo, com o mundo e com o outro; porque se apresenta “[...] como um movimento aberto e permanente ante as ‘situações limites’ apresenta- das na realidade objetiva e subjetiva dos/das ‘esfarrapados/as do mundo’” (STRECK; MORETTI; ADAMS, 2019, p. 9). 4. Palavras finais Ao abordar os sentidos e as possibilidades de uma educação ecointe- gradora pela perspectiva da decolonialidade, compreendemos que a América Latina tem sido, ao longo de toda sua história, um espaço de lutas pela humanização e de reconhecimento da inteireza da vida na terra. Inteireza essa que há mais de cinco séculos vem sendo posta à prova pela lógica mo- derno-ocidental antropocêntrica e potencialmente destrutiva em suas mais diversas dimensões. As reflexões aqui propostas permitiram-nos compreender que nos- sas heranças culturais, éticas e políticas trazem em seu cerne os princípios daquilo que Arne Naess (1973) chamou de ecologia profunda , cuja visão de mundo é holística e ecointegradora. Uma ecologia profunda é uma ecologia do bem viver, alicerçada no reconhecimento do direito à vida e no respeito

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