Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Por uma Educação Ecointegradora: perspectivas decoloniais 113 lheres: “ de maíz amarillo y de maíz blanco se hizo su carne; de masa de maíz se hicieron loz brazos y las piernas del hombre. Unicamente masa de maíz entró em la carne de nuestros padres, los cuatro hombres que fueran creados ” (RECINOS, 1982, p.104). De acordo com Brotherston (2007), K’iche’ winaq não possui uma co- notação própria, sendo possível sua compreensão semântica e simbólica ape- nas por meio da relação de codependência entre “homem” e natureza. Para o autor, a Terra é um “todo humanizado”, uma unidade viva entre homens, animais, plantas, astros, tempo, deuses/as e demais aspectos da realidade. Essa “terra humanizada” também é elemento comum, por exemplo, na cosmologia Guarani, que tem em sua expressão a relação de integralidade com o ecossistema. Tekoha (casa, território, aldeia) é um conjunto de ele- mentos naturais e espirituais que alimentam a força vital e a temporalidade entre passado, presente e futuro. Tekoha é um espaço físico de comunhão e reciprocidade entre yvyrasáva (aquele que passa pela terra), é “um caminho por onde o sujeito caminhou e ainda caminha, no tempo e no espaço, dando sentido à existência” (BENITES, 2020, p. 25). Para o autor, a ideia de traje- tória representa “múltiplos encontros de diferentes caminhadas”, que por sé- culos vem (re)existindo frente ao avanço da colonização e da colonialidade. É nesse espaço de comunhão que, em movimento, homens e mulheres desenvolvem ayvu (a palavra-alma), ou seja, se fazem ao se pronunciarem. Conforme Bartolomeu Meliá (2010, p. 40), “[...] a história da alma guarani é a história de sua palavra, a série de palavras que forma o hino de sua vida”. É por meio da palavra cantada que se expressa e se constrói a integralidade entre o movimento humano e os movimentos da natureza e do universo. E é a partir dela que, também, desenvolve-se a noção de corresponsabilidade pela energia vital da Terra. A palavra-alma cantada, que forma a memória e a identidade de uma cultura milenar, tem como primeiro princípio Nhandecy , ou seja, ter a terra como mãe. De acordo com Kaká Werá 7 , nesse princípio a terra é entidade viva, uma inteligência e consciência que tem com seus filhos uma relação mútua de cuidado. Nessa relação, diz ele, “todos nós somos parentes”, ou seja, todo humano, animal, vegetal ou mineral pertence a uma mesma famí- lia, a uma ancestralidade comum. O elemento comum destas distintas cosmologias que compõem a identidade latino-americana é a integralidade enquanto elo, a conexão entre 7 Disponível em: https://bodisatva.com.br/terra-e-de-nhanderu/. Acesso em: 10 dez. 2020.

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