Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Danilo R. Streck, Camila Wolpato Loureiro e Carolina Schenatto da Rosa 110 Logo adiante, no mesmo texto, ele menciona como este quintal de sua infância vai se desdobrando em outros espaços. O mundo agora é a casa (o oikos ) que inclui as árvores e os passarinhos, a enxada e o computador, as memórias do passado e o sonho do futuro. Humanização significa o cuidado com a existência de cada um e de todos, assim como significa o cuidado com a natureza que possibilita a existência. É a humanização que permite fazer a distinção dela como mero suporte disponível para uso, ou como parte do mundo que é constituído por nós, mas que dialeticamente também nos constitui e permite avaliar nosso grau de humanização. A discussão acima é recorrente nas obras de Paulo Freire. Citamos mais uma passagem que nos ajuda a tornar o tema mais concreto. Em uma pa- lestra sobre “A universidade católica: Reflexões em torno de suas tarefas” ele reafirma “que o ser humano é uma totalidade que recusa ser dicotomizada” e que é com essa inteireza que operamos no mundo. Em seguida coloca as di- mensões que comporiam essa inteireza: “é por isso também que a educação será tão mais plena quanto mais esteja sendo um ato de conhecimento, um ato político, um compromisso ético e uma experiência estética” (FREIRE, 1995b, p. 117). Temos nessas quatro dimensões uma agenda profícua para pensar a integralidade da educação que tem o propósito de plenitude da vida. A edu- cação é sempre um ato de conhecimento que se deriva da abertura para o mundo e da curiosidade de saber mais sobre nós e sobre este mundo. Por isso mesmo não poderá ser reduzida a um ato mecânico de reprodução e repetição. Também não poderá ser reduzida a um ato mental, uma vez que, nesse ato de conhecer, está envolvida a inteireza do que somos: o intelecto, as emoções, os sentidos, a memória e a imaginação. Uma educação que se propõe plena reconhece a sua politicidade. A opção política em Freire é pelos que são roubados de sua dignidade e da possibilidade de tornarem-se mais plenamente humanos. A dedicatória de Pedagogia do oprimido (1981) pode bem ser vista como o parâmetro para sua compreensão de não neutralidade: “Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas sobretu- do, com eles lutam” (p. 17). Podem mudar os termos com que os “esfarra- pados” são designados e a compreensão dos processos sociais que geram as desigualdades, mas são eles a referência para a tomada de lado. A educação que se quer plena exige um compromisso ético. A eticida- de em Freire tem a ver com a busca de coerência em meio a contradições. No caderno Virtudes do educador (1982), ele identifica as seguintes virtudes

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