Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Danilo R. Streck, Camila Wolpato Loureiro e Carolina Schenatto da Rosa 108 não uma esperança de pura espera, como nos provocava Freire (1992); pelo contrário, uma esperança utópica, que nos mobiliza para a construção de um mundo ainda não experenciado, mas possível. 2. Educação ecointegradora: revisitando a humanização A passagem do Emílio citada na epígrafe expressa o pressuposto com- partilhado por leigos e profissionais da educação de que, no fundo, a tarefa educativa consiste em tornar-se humano. A partir daí, no entanto, cessam as convergências porque não há uma forma de ser humano universal ou de métodos e estratégias que garantam um mesmo fim. É isso que também torna a tarefa educativa tão desafiadora: somos alimentados cotidianamente com a esperança de que, para além dos conteúdos ou das competências pro- fissionais a serem ensinadas, há um ser em formação. Melhor dito, há um ser que está se formando na mesma proporção na qual nós, como educadores e educadoras, continuamos nos formando. Ao tratar do tema da humanização recorremos a Paulo Freire por en- tender que, em sua obra, encontramos elementos para repensar a ideia de humanização de uma maneira que ajude a superar estreitamentos na visão do que seria o humano integral. Trata-se de uma abordagem que sinaliza para alargamentos conceituais nos estudos sobre (de)colonialidade, que re- velam ocultamentos de práticas transformadoras e de vozes de resistência, conforme exploramos ao longo do texto. Em Pedagogia do oprimido, já na primeira página, Paulo Freire coloca o tema fundamental de sua agenda. Diz ali que mais uma vez os humanos colocam a si mesmos como problema e se inquietam por saber mais de si e de seu “posto no cosmos” (FREIRE, 1981, p. 29). O permanente indagar-se sobre o seu destino é parte de sua condição humana, mas há momentos his- tóricos em que a pergunta se impõe como uma prioridade: “O problema de sua humanização, apesar de sempre dever haver sido, de um ponto de vista axiológico, o seu problema central, assume, hoje, caráter de preocupação ineludível” (1981, p. 29). É significativa a nota de rodapé onde vincula esse caráter ineludível com os movimentos de rebelião da década de 1960, em especial dos jovens. A opressão, respectivamente a desumanização, denunciada por Freire consiste em proibir o ser mais de homens e mulheres (1981, p. 47). Este ser mais, por sua vez, deve ser concebido dentro de concepção de inacabamen-

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