Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3
Por uma Educação Ecointegradora: perspectivas decoloniais 107 as fontes da vida que nos possibilitaram prosperar e sentir que estáva- mos em casa, sentir até, em alguns períodos, que tínhamos uma casa comum que podia ser cuidada por todos, é por estarmos mais uma vez diante do dilema a que já aludi: excluímos da vida, localmente, as formas de organização que não estão integradas ao mundo da mercadoria, pondo em risco todas as outras formas de viver — pelo menos as que fomos animados a pensar como possíveis, em que havia corresponsabilidade com os lugares onde vivemos e o respeito pelo direito à vida dos seres, e não só dessa abstração que nos permi- timos constituir como uma humanidade, que exclui todas as outras e todos os outros seres (KRENAK, 2019, p. 23. Grifo nosso). Evidentemente que o questionamento da lógica moderna não se dá apenas no plano individual, mas fundamentalmente no coletivo de cons- trução de formas alternativas de existência no e com o mundo. Por isso que o discurso da sustentabilidade capitalista-moderna apenas “adia o fim do mundo”. A superação desse quadro só se dará com a demarcação de que “o amanhã não está à venda”, como diz o título do novo livro de Krenak (2020). Ou seja, só se dará na construção de um mundo outro onde não aceitaremos a submissão da natureza, agindo para parar o processo de des- truição da nossa casa comum . O que estamos chamando atenção, levando em conta o pensamento de Krenak, diz respeito à necessidade de entendermos que o caminho de superação da colonialidade da natureza perpassa por perceber que o nosso futuro não pode estar dentro do capitalismo-moderno-colonial. Trata-se, desse modo, de um processo de conscientização que nos possibilite traçar um caminho para a vida por meio de pedagogias que levam em consideração o legado intelectual e de lutas contra a colonização, contra o autoritarismo, pela valorização da democracia, dos saberes locais e das diversas identidades culturais (SALGADO; MENEZES; SÁNCHEZ, 2019). Essas pedagogias – que podemos chamar de decoloniais – tomam a América Latina como local de enunciação, fortalecendo a autonomia de grupos historicamente colocados à margem, como: campesinos/as, negros/ as, indígenas etc. Assim, as pedagogias alicerçadas nos conhecimentos da América Latina traçam caminhos para leitura crítica do mundo, ao mes- mo tempo em que intervém para a reinvenção da sociedade. Por fim, vale ressaltar que nós temos a esperança de que pedagogias decoloniais tenham potência destacada para um pensar contextualizado do território da América Latina, trabalhando para a superação da modernidade/colonialidade. Mas
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