Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Por uma Educação Ecointegradora: perspectivas decoloniais 105 visão universal da história ligada à ideia de progresso liberal-capitalista e de superioridade cientificista em relação a outras formas de conhecer e produzir saber (LANDER, 2005). Por isso, o imaginário moderno serviu para legiti- mar o poder imperial econômica e politicamente, mas isso só foi/ é possível uma vez que a colonialidade constitui dimensão intransponível no discurso colonial (MALDONADO-TORRES, 2007). Por isso, é importante frisarmos que, ainda que vinculados, colonia- lismo e colonialidade não são sinônimos. Como afirma Maldonado-Torres, a colonialidade sobrevive ao colonialismo, de forma que “[...] respiramos la colonialidad en la modernidad cotidianamente” (MALDONADO-TOR- RES, 2007, p. 131). Assim, a colonialidade é um fenômeno histórico mais complexo e que se estende ao presente. É a permanência de estruturas de dominação colonial que estão presentes em nossas sociedades até hoje, he- ranças desse passado de séculos de dominação colonial. Daí a necessidade de uma segunda descolonização latino-americana que amplie a libertação para além do plano jurídico-político, mas que também inclua “a economia, a ciência, a igualdade racial e de gênero, a educação e a criação de novas for- mas de sociabilidade e de interação com as pessoas, as culturas e a natureza” (MOTA NETO, 2015, p. 67). Neste texto interessa-nos, particularmente, olhar para a dimensão da colonialidade da natureza, uma vez que ela representa o cerne da cosmogo- nia da modernidade/colonialidade, sendo elemento fundamental para pen- sarmos uma educação ecointegradora. Nessa lógica utilitária e extrativista, a natureza é retirada da sua comunhão entre todos os seres (humanos e não humanos) e transformada em apenas uma “coisa” a ser dominada e explo- rada em prol de um pretenso progresso. Para Walsh (2012), a colonialidade da natureza está inter-relacionada com a ontologia dos povos originários, gerando um rompimento entre um mundo “humano” e um mundo “espi- ritual” e impedindo, assim, a manutenção de sistemas milenarmente cons- truídos, que compreendiam a vida em sua integralidade. Em “Ideias para adiar o fim do mundo”, Ailton Krenak (2019) cri- tica uma sustentabilidade capitalista, pois ela não refuta o sistema que pressupõe em si mesmo a separação homem-natureza, operando, assim, para a compreensão da natureza como apenas recurso disponível para a exploração. Segundo o autor, a humanidade moderna nos alienou da Terra enquanto organismo vivo, de modo que aqueles/as que ainda estabelecem algum tipo de conexão com a natureza o fazem por estar dentro de uma sub-humanidade:

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