Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 3

Danilo R. Streck, Camila Wolpato Loureiro e Carolina Schenatto da Rosa 104 Segue-se uma reflexão sobre como nas fontes da pedagogia latino- -americana encontramos elementos que subsidiaram a construção de um pensamento eticamente comprometido com a vida. Destacamos algumas práticas educativas que fazem parte da nossa história – largamente esquecida – na América Latina. Recorremos, para isso, aos relatos contidos no livro de Fontes da pedagogia Latino-Americana: uma antologia e Fontes da pedagogia latino-americana: heranças (des)coloniais , desde os Mapuches no sul do con- tinente até as práticas dos Mayas na América Central. 1. Naturezas da/na modernidade/colonialidade: a ética da vida e da morte A rede de intelectuais modernidade/colonialidade tem nos auxiliado a perceber a modernidade como um projeto civilizacional de morte, de des- truição da vida (não europeia) em uma escala planetária, tanto de humanos, quanto de não humanos. E, consequentemente, tem nos ajudado a perceber a colonialidade como parte fundamental da constituição de um padrão de poder que trabalha para a naturalização de hierarquias territoriais, raciais, culturais e epistêmicas. Tanto a colonização do séc. XVI quanto o imperialismo do séc. XIX são marcados pela apropriação territorial, na expansão política, econômica e cultural europeia. Nesse panorama, a noção filosófica do antropocentris- mo-logocentrismo masculino, branco e europeu, configura-se como medida para todas as formas de saber e conhecer, fazendo com que a subjugação das sociedades consideradas sem passado ou futuro constitua o referencial temporal das narrativas modernas. No bojo destas narrativas, o extrativismo da natureza é um dos elementos centrais na organização das interações eco- nômico-sociais coloniais, mercadorizando e eliminando modos subalternos de coexistência com a Terra. 4 Mesmo com os processos de independência promovidos na América Latina ao longo do século XIX, que ocasionaram o fim da dominação física colonial, a razão moderna dualista que negou múltiplas formas de viver, ser e saber continuou presente no continente. Por meio dela, construiu-se a 4 A dualidade do termo “Terra”, tanto como o planeta “Terra”, quanto como a “terra” de produ- ção econômica da vida, é exemplo do dualismo moderno que retirar a humanidade da sua inte- gralidade com a natureza. Compreendendo esse processo, fazemos uso crítico de tal dualidade, como uma possibilidade de (re)pensarmos uma integralidade ecológica.

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