Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Aloisio Ruscheinsky 90 apreço à democracia e às políticas de bem-estar que também requerem um processo educativo para o seu reconhecimento e endosso. A ecologia integral também requer uma mística com uma epistemolo- gia voltada à alteridade: reconhecer, cuidar, compreender, curar, amar (TA- VARES, 2019; BODNAR; FREITAS; SILVA, 2016). Esta se expressa por uma percepção acurada de desafios e conflitos complexos, que, por sua vez, demandam ações e saberes pautadas na perspectiva da reflexividade. Ao apostar na ótica de que existe uma relação intrínseca ou as respecti- vas interfaces entre todas as criaturas, isto ainda não significa uma declaração de plena equiparação: em meio à natureza vigora uma dinâmica, movimento, até conflitos pelo espaço, entre outros aspectos. Em suma, tudo se alimenta mutuamente, quando a vida se alimenta da vida, ou dar e receber é condi- ção da existência. Muitas críticas podem brotar das práticas sociais; no entan- to, a emancipação humana como um dos resultados da educação ambiental também requer a libertação ou a manutenção da capacidade de sobrevivência dos outros seres vivos. Quanto mais se destaca a perspectiva dos direitos dos animais, da biodiversidade, tanto mais se enaltece o movimento em direção inversa ao especismo. O pleito da redução das drásticas desigualdades sociais parece rimar com o declínio paralelo com discriminação ou as desigualdades entre espécies (ALVES, 2015). Todavia, há que reconhecer que no reino animal também um se alimenta de outro ou as plantas disputam o espaço. A encíclica do papa Francisco questiona algumas das consequências do antropocentrismo, cuja concepção coloca o humano no ápice das aten- ções do planeta, bem como a única estirpe como sujeitos de direitos. Isto permite igualmente uma referência à surdez ante os direitos e a alteridade. (RUSCHEINSKY, 2017). O cuidado com a casa comum parece igualmente um movimento que reconhece como crime a destruição metódica e intensa de ecossistemas, reconhece que da ganância humana decorrem crimes contra a biodiversidade. Diante de tais ameaças presentes, a reeducação parece um processo mais do que urgente. Diante das novas gerações que incorporam as novas tecnologias e seus fluxos, inclusive como descartáveis, alargam-se ou estreitam-se as vias de educar para o cuidado, desenhando uma nova mística. Referências ACSELRAD, Henri; MELLO, Cecilia C. A.; BEZERRA, Gustavo N. O que é justiça ambiental? Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2009.
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