Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Aloisio Ruscheinsky 88 4. Educação para a aliança entre a humanidade e o meio ambiente Ao tratar da educação pautada por um olhar para a alteridade, refe- re-se à “aliança entre a humanidade e o ambiente”. Neste campo, de forma perspicaz admite que a consciência ou as informações sobre a gravidade da crise cultural e ecológica, embora importante, se apresenta vigorosamen- te insuficiente; há que acrescer as ações robustas e viçosas para mudanças substanciais (RUSCHEINSKY, 2010). O texto da encíclica não se reporta ao termo decrescimento 8 , todavia são diversas as oportunidades em que en- dossa o seu significado ou perspectiva, uma vez que a parcimônia no consu- mo e desperdício é uma medida de decrescer na produção de impactos. Na mesma vertente discorda da obsolescência planejada e do consumo efêmero (que por sua vez resulta de relacionamentos sociais efêmeros) A captura da alma humana pela retórica do progresso atual, o ímpeto pela acumulação de objetos como sintoma de felicidade ou a capacidade in- finita do imaginário em desenhar novos prazeres se explicitam como robus- tas adversidades, capazes de fazer renunciar àquilo que consideram melhor. A educação para a aliança encontra implantada na mente humana a voz da erva daninha do mercado. Paulo Freire assim se referia ao decrescimento: “o gérmen do opressor habita o coração do oprimido.” Com esta ampla plataforma de vislumbrar um novo paradigma am- biental e ético parece ausente na encíclica a preocupação com a co- municação, ou seja, os mecanismos pelos quais a mensagem chegará efetivamente e com eficácia às pessoas de boa vontade. As linhas de orientação e de ação poderiam ultrapassar a denúncia: “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Caso contrário, continuará a perdurar o modelo consumista, transmitido pelos meios de comunicação social e através dos mecanismos eficazes do mercado” (LS, 215). 8 Um dos mais árduos e conhecidos proponentes do decrescimento é Serge Latouche (2009), que instiga o imaginário de uma sociedade equitativa e ambientalmente consistente ou uma pegada ecológica equitativa. Diferentes percepções e indagações se articulam diante das mazelas da sociedade de consumo e suas formas de exclusão sem erradicação da pobreza. Em suma, o decrescimento se delineia pela meta primordial do abandono do crescimento ilimitado.
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