Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Aloisio Ruscheinsky 86 A amplitude com que se apresenta a proposição do cuidado com a casa comum incorpora a reflexividade pela qual se detectam os riscos ambientais e cautelosamente o reconhecimento da ambivalência das ações e políticas ambientais. Sendo assim, a reflexividade reporta-se à capacidade de criticar as próprias posições. A encíclica não menciona o termo “sociedade de risco”, mas está presente de forma densa a discussão proporcionada pela noção da sociedade de risco. Entre estes sintomas atesta “o aparecimento de efeitos não desejados dos processos de produção e oportuna intervenção perante riscos incertos ou potenciais” (LS, 177). A radicalização da proposição está assinalada pelo conhecimento da reflexividade ou a práxis da racionalidade não instrumental. Tem-se tornado usual que a percepção das necessidades encontra-se cindida de elementos fundantes de toda a vida, como a água, o ar, a terra (espaço/minerais), fogo ou energia do sol. O documento em tela ressalta a relevância da redescoberta destes universos, além de uma visão realista de que os níveis de consumo desigual encontram-se acima da capacidade de regeneração dos bens naturais e como tais mudanças substantivas são imprescindíveis para um acesso universal à alimentação e à água. O desafio político e educativo se reporta a convicções de que a permanência de desi- gualdades múltiplas é o fator gerador da pobreza, e não tanto o aumento da produtividade ou maior exploração de bens naturais. A ameaça da restrição de água potável em parte já é uma realidade e encontra-se em expansão de- vido às mudanças climáticas, à privatização e à degradação dos ecossistemas. Certamente os desafios para educar na ecologia integral são incomen- suráveis levando em consideração o mundo em descontrole ou as múltiplas assimetrias lesivas no que diz respeito à capacidade de reposição dos ecossis- temas. Neste ínterim, a encíclica papal se alinha igualmente a ponderações de cientistas que apontam a insustentabilidade do modo de vida atual. As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida actual – por ser insustentável – só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está a acontecer periodicamente em várias regiões” (LS, 161). -bem-comum-desafios-e-perspectivas-pos-pandemia. O “papa Francisco propõe um sistema econômico mais justo e sustentável” em http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/595012-pa pa-francisco-propoe-um-sistema-economico-mais-justo-e-sustentavel.
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