Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Aloisio Ruscheinsky 82 O mundo acadêmico possui resistências em face das temáticas em tela neste capítulo: quanto ao desenvolvimento de aportes práticos para a edu- cação ambiental e suas possíveis implicações questionadoras das instituições e da cultura de consumo, bem como repercussões teóricas e práticas quan- to aos afazeres pedagógicos; quanto à pertinência das iniciativas visando à construção e sistematização da noção de justiça socioambiental como requi- sito para a sustentação de ações sustentáveis e de políticas socioambientais; quanto ao paradigma da ecologia integral como uma noção relacional e de totalidade ao mesmo tempo, dentro de um quadro conceitual de referên- cia para alternativas à visão antropocêntrica. A noção de que tudo está em relação e todas as coisas estão em movimento constitui uma adesão à ótica da dialética, de alguma forma inevitável para o cuidado com a casa comum . Com estas ideias fica evidenciada a circunstância polêmica no meio acadêmico. Todavia, em uma perspectiva transdisciplinar radical pode-se lançar a conjectura de que há largas possibilidades de transformar a noção de ecologia integral em uma categoria cujo rigor venha a ser plenamente pacificada com os trâmites rigorosos e robustos de um paradigma também para o meio científico e acadêmico. Faz uma década que Mansoldo (2012) propunha uma “educação am- biental na perspectiva da ecologia integral”, interrogando-se profundamente de como realizar uma tarefa desta envergadura num mundo em relações assimétricas; ou em descontrole, de acordo com Giddens (2002), devido às incertezas, instabilidades e mudança de época. Parece um projeto civiliza- cional abandonar os principais elementos depredadores inatos ao sistema de produção, circulação e consumo. Assim, Sganzerla e Pessini (2017) associam a depredação da biosfera de forma desmedida com uma crise ética e moral derivada ou conectada com uma cultura do consumo, do relativismo, da apropriação privada dos bens comuns, do descartável. Além disto, os autores insistem de que vigora uma visão sistêmica na qual se integram e interagem todas as coisas como fundamento teórico e prático. Como tal, sucede uma interdependência entre as lutas sociais e ideológicas, a economia, a política, a educação e a cultura, a ética e a ciência. A pertinência teórica e prática da noção de justiça socioambiental per- mite uma abordagem cuja reflexão se tece nas circunstâncias de um amplo, nítido e expresso conflito, especialmente em que se encontram vigentes mo- vimentos paradoxais. Para uns ele se apresenta de forma dualista, situando- -se de um lado, “o hegemônico caracterizado pela colonialidade de mercado, tecnociência e mídia; de outro, o emergente descrito como novo paradigma
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