Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

A concepção inaciana de formação integral enquanto possibilidade de educar na perspectiva... 71 piritualidade. A ecologia já é em si mesma uma ciência de relações multifor- mes entre as espécies e seus ambientes, mas nós somos convidados a ampliar ainda nosso olhar. A terra é uma casa, e se trata de respeitar e habitar juntos. A propósito do vínculo entre ecologia e justiça social, o papa insis- te com fórmulas marcantes como: “uma verdadeira abordagem ecológica se transforma sempre em uma abordagem social […] para escutar tanto o clamor da terra quanto o clamor dos pobres (LS, 49). Porque os pobres são constantemente as primeiras vítimas das mudanças climáticas e do em- pobrecimento dos ecossistemas. Eles são aqueles que não podem esperar (LS, 162). Ao mesmo tempo, “a cultura do descarte afeta tanto as pessoas excluídas quanto as coisas, rapidamente transformadas em lixo” (LS, 22) e a maneira de tratar as outras criaturas é, às vezes, sintomática de nossa relação para com os seres humanos (LS, 92). Assim: “Não há duas crises separadas, uma ambiental e a outra social, mas uma só e complexa crise sócio-ambien- tal. As possibilidades de solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, para dar dignidade aos excluídos e, simultaneamente, para preservar a natureza” (LS, 139). Em terceiro lugar, é necessário observar que a crise ecológica é tam- bém uma crise humana e moral: “a degradação do ambiente como a degra- dação humana e ética estão intimamente ligadas” (LS, 56). Como queremos viver e segundo quais valores? Qual solidariedade com os pobres e com as gerações futuras? O sistema econômico e social do mundo atual “é insusten- tável de diversos pontos de vista, porque deixamos de pensar sobre os fins das ações humanas” (LS, 61). Do mesmo modo, a questão ecológica é, no fundo, uma questão espiritual: porque passamos neste mundo, porque viemos a essa vida, para que trabalhamos e lutamos, por que essa terra necessita de nós? […]. É um drama para nós mesmos, porque isso coloca em crise o sentido de nossa própria passagem sobre essa terra” (LS, 160). Tal é o sentido da expressão “ecologia integral”, tema do capítulo cen- tral da Encíclica. Ela faz eco ao “desenvolvimento integral” colocado por Paulo VI na Populorum Progressio em 1967. Trata-se de salvar o planeta ameaçado por numerosos males e, igualmente, reduzir as desigualdades (LS, 138-142), salvaguardar as riquezas culturais (LS, 143-146), promover uma ecologia da vida cotidiana e do quadro da vida (LS, 147-155). Esses diferen- tes objetivos, longe de se oporem, completam-se e apoiam-se mutuamente. Uma vez que tudo está conectado, é necessário integrar tudo. É dentro desse

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz