Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
João Batista Storck 70 econômico, desacompanhado do desenvolvimento do ser humano quanto à responsabilidade, aos valores, à consciência. Reconhece que a tecnologia, quando bem orientada, pode produzir bens realmente valiosos para me- lhorar a qualidade de vida das pessoas, porém considera tremendamente arriscado que essa tecnologia resida sob o poder de uma pequena parte da humanidade. Nesta mesma direção, mas numa perspectiva mais profunda, trata-se de aprender a amar de outra maneira, ou seja, de aprender a descobrir um novo modo de amar, de passar pouco a pouco do que eu quero para o que necessita o mundo de Deus. Francisco afirma que a cultura ecológica, hoje necessária, não pode ser reduzida a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo em torno da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição. Deveria ser uma visão, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático. Em segundo lugar, o Papa é enfático ao afirmar que é imprescindível e iminente arrojar-se numa corajosa revolução cultural, pois buscar apenas um remédio técnico, para cada questão ambiental que aparece, significa isolar coisas que, na realidade, estão interligadas e esconder os problemas verdadei- ros e mais profundos do sistema mundial. Esclarece que o antropocentrismo moderno acabou por colocar, paradoxalmente, a técnica acima da realidade e que não existirá “uma nova relação com a natureza, sem um ser humano novo” (LS, 118); portanto, não haverá ecologia sem uma adequada antropologia. Ao desenvolver essa ideia, diz que não é compatível a defesa da natu- reza com a justificação do aborto, já que tudo está relacionado: “Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento de uma nova vida, ainda que sua chegada seja causa de incômodos e dificuldades, definham também ou- tras formas de acolhimento úteis à vida social” (LS, 120). “Tudo está conectado”: a expressão volta constantemente sob a pena de Francisco. A questão ecológica é central, mas ela nunca é separada de outras questões essenciais que o Papa deseja abordar: a justiça para com os pobres, os modos de vida e de consumo, as razões de viver nesse mundo. De fato, nosso modo de habitar o mundo toca a nossa relação com a natureza e as outras criaturas, mas também aos nossos irmãos humanos, a nós mesmos e, finalmente, a Deus (LS, 10-237). A expressão original, presente no título: a ‘casa comum’ indica bem essa ligação íntima que Papa destaca entre ecologia, justiça social, ética e es-
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz