Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Marilia Verissimo Veronese 50 3. Ocupação dos espaços públicos e a troca de conhecimentos: operacionalizando os conceitos na análise do caso em foco Os encontros acima descritos dão-se no âmbito de uma cidade, Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul. Os espaços das grandes ci- dades costumam ser segmentados por marcadores sociais como pertença de classe, raça-etnia, geracionalidade, identidades de gênero, capacidades físicas, estado de saúde mental. Os espaços mais qualificados de arte, como galerias, museus, teatros, cinemas, geralmente não estão acessíveis para os pobres e/ ou doentes mentais. Para Santos (2006), as sociedades são abissalmente di- vididas entre quem tem acesso a direitos sociais e culturais e quem não tem. Quem fica “do lado de lá” das linhas abissais, excluído de direitos básicos, desaparece como sujeito social, político e de direitos, sendo arrastado à con- dição de ausência produzida. As ausências se produzem também através da desqualificação social, da atribuição de uma inferioridade que seria “natural”. Complementa Maria Paula Meneses: Uma das expressões mais claras da colonialidade das relações de poder acontece com a persistência da colonização epistémica, da reprodução de estereótipos e formas de discriminação. Os grupos identitários consi- derados inferiores [...] estão normalmente associados a imagens e repre- sentações negativas (MENESES, 2009, p. 72). A produção social dessas ausências resulta na subtração do mundo, na contração do presente e no desperdício da experiência (SANTOS, 2006). A sociologia das ausências coloca a necessidade de pôr em questão essa lógica excludente. Nesse questionamento, propõe substituir a monocultura do saber científico e de uma “alta cultura” que deixa tantos de fora, por uma ecologia dos saberes , que possibilite a disputa epistemológica entre diferentes saberes, o que Meneses (2009) chama de justiça cognitiva , condição para justiça social. Conforme Harvey et al. (2009, p. 16): Mesmo as assim chamadas cidades “globais” do capitalismo avançado são divididas entre as elites financeiras e as grandes faixas de trabalha- dores mal remunerados dos serviços mesclados aos marginalizados e de- sempregados. [...] As cidades sempre foram lugares de desenvolvimentos geográficos desiguais, mas as diferenças agora se proliferam e se intensifi- cam de um modo negativo e até mesmo patológico que inevitavelmente lança sementes de um conflito civil. São essas cidades a combinação de nosso desejo íntimo? Constroem elas o tipo de pessoas que queremos ser? São essas as relações com a natureza a que nós aspiramos?

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