Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Tecnociência e mercado sob o olhar da Ecoteologia 37 e o querer, o enriquecimento de alguns poucos que sequer conhecemos. De fato, a privacidade tem se tornado o maior ativo econômico do século XXI. Temos nos tornado vítimas de uma espécie de “colonização” de dese- jos, sentimentos e emoções. Excogitado pela cumplicidade entre mercado, tecnociência e mídia, o fetichismo anestesia os corpos, sequestrando-lhe emoções e sentimentos, além de dominar as almas colonizando seus dese- jos. Trata-se da violência imposta e praticada por um regime de regulação e de expropriação das emoções e que se constitui como violência material e simbólica: usurpação de energias físicas, capacidade de trabalho, emoções, sentimentos e desejos (MACHADO ARAÓZ, 2013). E esta expropriação alienante se dá mediante a redefinição ou reestruturação das relações, socia- bilidades, sensibilidades e subjetividades sob a lógica do interesse econômi- co, da funcionalidade e da espetacularização. Esta violência assim descrita se inscreve na própria pele assinalando de maneira indelével os corpos de modo a criar uma espécie de sujeição tão bem caracterizada por Frantz Fanon como “epidermização” (FANON, 1973, p. 10). Corpos e almas, portanto, que trazem a marca da subalternidade internalizada. E, porque expropria- dos de sua própria sensibilidade, se tornam incapazes também de perceber e sentir a dominação sob a qual se encontram. Mais do que a razão, nossas sociedades estão perdendo o coração. E talvez por isso não haja mais reação social possível nem emergência de energias de indignação, posto que, cega- dos, os olhos não veem e, anestesiados, os corpos não sentem. Concluindo, diríamos que, nos dias que correm, assalta-nos uma ques- tão que não quer se calar: o que as tecnologias poderão fazer de nós? Talvez o que mais nos preocupe, hoje, seja a consciência de não termos condições de entabular um confronto à altura dos desafios atuais, por dispormos apenas do “ l’esprit de géométrie ” (Pascal) que se distingue, fundamentalmente, por: fazer contas, reagir aos apelos do que seja útil e vantajoso, operar no curto espaço entre meios e fins, potencializar o uso com o menor custo possível. Habitamos um mundo capturado pela utilidade e pelo consumo. A noção de verdade se encontra, em nossos dias, condicionada pela eficiência. A ver- dade da técnica é, para todos os efeitos, funcional. Só nos interessa o co- nhecimento aplicável: saber-como fazer. Reduz-se, assim, o logos à dimensão tecnológica. Não apenas um saber apto a produzir receitas, moldes de leitura e instrumentos para intervir na realidade, mas que se autoconcebe como instrumento. Por tais razões, segundo nos parece, encontramo-nos em um momento novo na história, talvez irreversível, onde a questão que se coloca

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