Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Sinivaldo S. Tavares 36 Em que consiste propriamente o e xtrativismo digital ? Percebemos que mercado e tecnociência vêm sancionando o “neoliberalismo” como única possível alternativa econômica, posto que até mesmo as eventuais críticas a este modelo econômico têm assumido um corte nitidamente neoliberal. Grandes corporações se constituem, a saber: Big Pharma (farmacêuticas), Big Food (alimentícias), Big Oil (petroleiras). E, mais recentemente, a criação da Big Data (dados, informações). Encontramo-nos no bojo do “Capitalismo dadocêntrico”, segundo alguns, ou do “Dataísmo”, como preferem outros. Trata-se de uma nova era criada pelas tecnologias de informação em seu efetivo processo de “extrativismo digital” (MOROZOV, 2018, p. 81-101). Não suficientemente satisfeitos com escavar solos e subsolos e de extenuar a força humana de trabalho, empresas de informação pretendem escavar nossa psique e nossa privacidade, operando uma autêntica “mineração de dados”. E, com isso, nós seres humanos, além de vermos esgotados nossos territórios e exauridas nossas forças físicas, somos ainda vistos como “reserva de recur- sos informacionais” ou tratados como “cofres de dados possíveis”. Recursos e dados escavados, extraídos por sistemas inteligentes cujo interesse é com- prar e vender informações e dados pessoais no mercado, tanto no atacado quanto no varejo. As “ Fake News ”, por exemplo, se tornam subproduto do “capitalismo digital” assim como o aquecimento global o é do “capitalismo fóssil” (MOROZOV, 2018, p. 182-187). E a razão desta atitude extrativista se encontra na descoberta dos algoritmos, verdadeira “mina de ouro ima- terial” das grandes empresas e corporações internacionais. O mapeamento de algoritmos permite às grandes empresas o controle de consumidores e também de eleitores, uma vez que descrevem um vasto leque de padrões de comportamento. Diante desta situação, perguntamo-nos: haveria lugar para uma crítica emancipatória tanto das tecnologias quanto do neoliberalismo? (MOROZOV, 2018, p. 138-143). Nossa privacidade tem se tornado o maior “ativo econômico”. Por meio do “extrativismo digital” nossa privacidade, nossa subjetividade, nos- sos desejos mais recônditos são extraídos, alienados e, enfim, reduzidos a mercadorias compradas e vendidas à revelia de nossa vontade. Numa pala- vra, nossas informações, granuladas e rastreadas, se convertem em armas de controle e de governabilidade. Até mesmo nossa liberdade pessoal é reduzida a mera prestação de serviços, a despeito de nossa consciência e vontade. Exemplo disso é o fato de que, cada vez que compartilhamos nas redes so- ciais um momento que seja de nosso lazer, estamos produzindo, sem o saber
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