Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Tecnociência e mercado sob o olhar da Ecoteologia 35 3.3. “Crença” na tecnociência como “produtora” de riqueza Muito difusa nos dias que correm a “crença” de que a tecnociência seja imprescindível no processo de “produção” de riqueza. Por essa razão, faz-se necessário recuperar a materialidade da natureza e explicitar sua imprescin- dível importância na produção de riquezas. Que a tecnociência propicie maior controle e potencialização no processo de trabalho e produção de riqueza é inegável. Que, ao contrário, produza petróleo, carvão ou qualquer outro minério é crença ilusória. Pois se o conhecimento tecnocientífico pode aumentar e controlar a produtividade, ele não pode, em nenhuma hipótese, produzir, por exemplo, moléculas de hidrogênio e carbono. Para nos dar conta da produção de petróleo ou carvão precisaríamos recorrer ao tempo geológico. Por essa razão, mais que produzir, a rigor, nós extraímos bens da Terra. Somos extratores e não produtores, como se crê. Extraímos bens que a Terra levou milhões de anos para produzir e, portanto, extraímos o que não produzimos. A tal propósito, fala-se de “divórcio entre o cálculo monetário e o cálculo material-energético” ou ainda de “balanço energético negativo” para se referir ao fato de a produção exigir um tempo de trabalho de dimen- sões geológicas que não tem sido minimamente calculado. Esse “balanço energético negativo” se verificaria em “diferentes atividades produtivas no mundo moderno, onde a quantidade de energia despendida no processo de produção é muito superior à obtida com os produtos resultantes desse processo. [...] No capitalismo indus- trial não é raro encontrar atividades onde o processo produtivo consome três vezes mais energia do que a gerada pelo produto. [...] Esse tipo de atividade apenas se sustenta porque existe um divórcio total entre o cál- culo monetário e o cálculo material-energético. Como o valor monetário das fontes energéticas é baixo, comparado com o valor monetário dos produtos finais, uma economia irracional do ponto de vista material pode ser altamente lucrativa no mercado” (PADUA, 2003, p. 25). 4. Conclusão: presas vulneráveis de um “controle global” Damo-nos conta de que nossas sociedades têm se tornado presa vulne- rável de um “controle” global que vem se dando, sobretudo, mediante três expedientes: “extrativismo digital”, redução da privacidade a “ativo econô- mico” e “colonização” de desejos, sentimentos e emoções.
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