Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Tecnociência e mercado sob o olhar da Ecoteologia 33 3.2. “Crença” na racionalidade e linguagem da tecnociência como conhecimento objetivo e irrefutável A modernidade colonial capitalista vem, desde o princípio, se impon- do mediante dois expedientes: exploração violenta do planeta Terra e criação de sujeitos-indivíduos separados da Terra. E a relação destes com aquela tem se dado a partir da exterioridade, da superioridade e da instrumenta- lidade. A “invenção” moderno-colonial-capitalista da subjetividade como cogito provocou uma série de fraturas no tecido cósmico, social e existencial. Violentamente separados da Mãe Terra, deixamos de nos considerar “filhos da Terra”. Reduzidos a indivíduos sentimo-nos separados, opostos e contra- postos a nós mesmos e aos outros seres com os quais constituímos o tecido social e cósmico. E, por fim, somos violentamente atravessados por aquela fratura existencial que nos cinde em duas coisas ( res ): uma extensa e outra pensante. Fomos, de fato, condenados a viver marcados por uma espécie de esquizofrenia existencial, social e cósmica. Ao se considerar o corpo como “res extensa” , a imaterialidade foi al- çada à essência do sujeito. Isso se deu sobremaneira com Descartes que, ao estabelecer uma nítida separação entre alma e corpo, acabou por definir o ser humano como alma. É clara, portanto, a posição cartesiana de que a natureza humana se esgota essencialmente no plano da não extensão ou da imaterialidade, perfazendo-se unicamente no âmbito do pensamento. Por- tanto, o corpo não entra na constituição daquilo que é considerado essencial ao humano. A identidade do “eu” reside na alma; o “eu” é a alma. A tese de Descartes serviu como luva aos interesses da sociedade emer- gente preocupada em extrair bens da natureza, vistos como meros recursos, e transformá-los, por meio da exploração forçada de corpos humanos, em conjunto de mercadorias disponíveis aos negócios do incipiente capitalismo mercantil colonial. Interessante ressaltar que não se considerava apenas a natureza como algo objetivo e meramente extenso. Concebiam-se também os seres humanos, especialmente de outras ‘raças’, como simples corpos a serem controlados e submetidos a trabalhos extenuantes. Descartes oferecia, no fundo, excelente fundamentação teórica para a proposta de F. Bacon e de G. Galilei: interpretar a natureza mediante linguagem e código matemá- ticos, para poder dominá-la eficazmente. Reduzir o ser humano a simples máquina habitada por uma espécie de fantasma tornou-se um expediente ideal para justificar o uso de seus corpos como força de trabalho na trans- formação de bens naturais em mercadorias. E isso tanto na instituição do
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