Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Sinivaldo S. Tavares 32 lhavam o princípio que mais tarde foi proposto como “natural”: “o segredo é a alma do negócio”. Transações comerciais de qualquer tipo só se faziam à luz do dia e em presença de interessados e testemunhas. Aliás, o próprio Adam Smith, que era pastor, fazia incursões no campo da economia movido por preocupações éticas e morais. Com o passar do tempo, a economia foi se autonomizando. E essa autonomia foi sendo, pouco a pouco, conquistada através da sistemática desvinculação da transparência nas negociações e das necessidades básicas dos mais pobres, até se impor, em nossos dias, como necessidade econô- mica para além de qualquer valoração ética ou injunção política. Trata- -se, para todos os efeitos, de uma imposição; o que nos leva a perceber, sobretudo em nossos dias, que a economia mercantil vem se travestindo ao longo dos anos no intuito de parecer democrática. A globalização neo- liberal levou ao paroxismo essa situação, lançando mão de dois proces- sos simultâneos que se retroalimentam: 1) desvinculação da economia de qualquer valor ético ou moral: 2) abstração da economia em relação a toda e qualquer materialidade. E a conclusão, portanto, seria que a economia se reconhece exclusivamente em sua dimensão simbólica mais abstrata, a saber: a quantidade e o dinheiro. O auge do paradoxo consiste em confun- dir riqueza com dinheiro. De fato, enquanto disciplina científica e política, a economia tem se ocupado da busca obsessiva do enriquecimento e não propriamente da riqueza enquanto tal. Aliás, o conceito de riqueza tem se tornado cada vez mais ausente nas análises dos economistas. É o que afirma de maneira contundente R. Triffin: “O conceito de riqueza é interessante. Ele é me- dido pelo valor de troca. Mas o valor de troca é determinado pela escas- sez, enquanto que riqueza não é escassez” (Apud PORTO GONÇALVES, 2015, p. 123). A “escassez” tem sido posta, para todos os efeitos, como fundamento teórico da economia mercantil moderna. O que existe em abundância e à disposição de todos é considerado dádiva, fonte inesgotá- vel e, portanto, algo destituído de todo e qualquer valor econômico. Pois o que constitui, de fato, um bem econômico é, paradoxalmente falando, a escassez. E isso põe à mostra um pressuposto implícito, ainda que não propriamente econômico, à economia mercantil capitalista: a propriedade privada. Pelo fato de privar quem não é proprietário, como diz o próprio termo, a propriedade privada constitui a escassez como fundamento da economia mercantil capitalista.
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