Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Tecnociência e mercado sob o olhar da Ecoteologia 31 “crença” no mercado como necessidade econômica; “crença” na racionalida- de e linguagem da tecnociência como conhecimento objetivo e irrefutável; “crença” de que o conhecimento tecnocientífico “produza” riqueza. 3.1. “Crença” no mercado como necessidade econômica Muito difusa em nossos dias a ideia do mercado como uma espécie de crença. De fato, a crença nas virtudes do mercado vem assumindo cada vez mais feições de um fundamentalismo religioso. Nada escapa à ambiência e, portanto, às influências do mercado. Fora dele, hoje, nada mais parece fazer sentido. Toda e qualquer iniciativa só adquire direito de cidadania se, antes, cede à lógica do mercado. Daí o surgimento de propostas recentes como: economia ecológica ou verde, desenvolvimento sustentável, mercantilização da fotossíntese ou crédito de carbono, etc. A agravar ainda mais a situação é certa afinidade que nos é apresentada entre as metáforas do mercado e do ambiente. Afinal, o mercado não seria a condição imprescindível para se garantir bem estar social, longevidade, solução de problemas vários e, assim, alcançar aquele equilíbrio harmonioso e “natural” tão almejado por todos? E não seriam ambas, ordem e harmonia, que buscamos com a defesa e o cuida- do do ambiente? De resto, economia e ecologia não gozariam de uma radical afinidade expressa no fato de ambas compartilharem o mesmo étimo oikos (casa)? Assim, enquanto a ecologia nos remeteria aos princípios que regem a casa comum , a economia, por seu turno, se ocuparia de leis e da logística a garantir a aplicação desses princípios. Essa utopia, de fato, só seria possível se insistíssemos em ficar apenas na superfície lisa da imaginação fantasiosa. No cotidiano, resta-nos apenas aquela espécie de “heterotopia” caracterizada por tensões e contradições entre economia e ecologia. Para o historiador inglês E. P. Thompson, “mercado” seria uma metá- fora sem consistência alguma: tanto conceitual quanto empírica (THOMP- SON, 1998). Ao contrário do que se crê, segundo ele, “mercado” nos re- meteria ao desejo de harmonia produzido por um equilíbrio natural. Com Adam Smith, mormente graças à imagem da “mão invisível” colocando or- dem no mundo, esse desejo teria assumido conotação divina. Até o século XVIII, segundo Thompson, os mercados, nas primeiras horas de funcio- namento, só disponibilizavam produtos aos pobres e pelo preço que estes podiam pagar. Somente nas horas sucessivas é que se podiam auferir lucros com a venda de mercadorias. Outra característica dos mercados de então era, por incrível que pareça, a transparência nas negociações. Não comparti-

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