Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Sinivaldo S. Tavares 30 quencialistas, encontrar-se-ia hoje a tecnociência na iminência de aniquilar as democracias que a geraram? Também Galimberti levanta a suspeita de que a tecnociência poderia, de fato, pôr fim à democracia (GALIMBERTI, 2015, p. 10-11). E a razão residiria no fato de a tecnociência colocar-nos questões acerca das quais não temos condições de decidir pela solução me- lhor. Como tomar posição em face de questões relativas, por exemplo, à reprodução assistida, usinas nucleares ou organismos geneticamente modifi- cados sem os critérios de um competente juízo que, no caso, apenas um mé- dico, um físico nuclear ou um geneticista ou biólogo molecular teriam? Isso não explicaria, de resto, o atual cenário político brasileiro, onde consensos são obtidos, quando o são, não mediante argumentação rigorosa, mas, ao contrário, através de defesa de opiniões, servindo-se da persuasão emocional e recorrendo a preconceitos arraigados e a moralismos culturais e religiosos? 3. Desafios postos por Tecnociência e mercado à Ecoteologia Adverte-se, em nossos dias, uma alienação básica entre o sujeito inven- tado pela modernidade colonial capitalista e o planeta Terra. Somos vítimas de uma fratura das conexões vitais entre corpos e territórios e, portanto, pensamos e nos sentimos como se vivêssemos do dinheiro (valor abstrato) e não dos bens da Mãe Terra. Concebemos, assim, progresso-desenvolvimen- to-crescimento em termos de domínio e exploração (supostamente) infinita dos “recursos” da Terra. Em sua fase senil, o capitalismo apresenta-se em nossos dias na versão histórica do assim chamado “capitalismo financeiro” ou “capitalismo improdutivo” (DOWBOR, 2017). Trata-se, nas palavras de Horacio Machado Araóz, da “era da acumulação em tempos de esgotamento do mundo e de crise terminal das energias vitais, tanto das primárias (que brotam da Terra) como das sociais (que surgem e se mobilizam pelo traba- lho)” (MACHADO ARAÓZ, 2016, p. 461). Desse modo, para progre- dir, o neoliberalismo necessita “fraturar as conexões vitais-existenciais entre corpos-trabalho e Terra-territórios de vida” (MACHADO ARAÓZ, 2016, p. 464). Nesse sentido, o neoliberalismo constitui o conjunto de relações sociais que absorve as energias vitais no intuito de acumular infinitamente o valor abstrato, o dinheiro. E, assim, consome a vitalidade da Terra e a huma- nidade do humano. Essa é a principal razão pela qual nossas sociedades con- tinuam se tornando presa vulnerável do persistente expediente de “naturali- zação” que, em tempos recentes, tem se travestido em uma “crença” tríplice:
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