Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Tecnociência e mercado sob o olhar da Ecoteologia 27 Instigada por tais questões, a Ecoteologia potencializará ao máximo a reciprocidade das relações entre “o grito dos pobres e os gemidos da Terra” (BOFF, 2015). A gravidade e urgência das questões atinentes ao discurso acerca do cuidado de nossa “casa comum ” exigem que todo discurso teoló- gico responsável e que, portanto, não se deixa tragar pela indiferença e pelo cinismo, se construa a partir da condição dos pobres e numa perspectiva utópico-libertadora. Daí a necessidade de, ao articular o grito da Terra com o grito do pobre, potencializá-los ao máximo, ressignificando-os na pers- pectiva iluminadora do evangelho da criação. Um discurso acerca da tutela da vida no Planeta que não incorpore as questões da pobreza e da fome, da injustiça social e das contradições da globalização neoliberal peca por inge- nuidade e conivência. Da mesma forma, um discurso acerca do cuidado e da sustentabilidade do planeta Terra, nossa casa comum , que não brote, de maneira esperançosa, dos sulcos fecundos do evangelho da criação, acabará sucumbindo a um pessimismo trágico (TAVARES, 2010, p. 9-16). Neste sentido, a Ecoteologia parte do pressuposto de que a injustiça social e a crise ambiental são ambas provocadas por um sistema de mor- te, deflagrado como produto de um paradigma civilizacional, caracterizado pelo poder hegemônico do mercado, da tecnociência e da mídia. É este sistema, no fundo, o responsável último pelos processos em curso que, jun- tos, compõem o que temos justamente denominado de “crise ecológica”. A reflexão desenvolvida pela Ecoteologia se inspira na utopia de um novo e emergente paradigma, o ecológico. Este se encontra ainda em fase de gesta- ção, mas seus rebentos se revelam cada vez mais promissores. Fruto de um novo olhar, as novas relações propiciadas pelo emergente paradigma ecológi- co seriam fortemente marcadas pelos valores da complexidade, do cuidado e da sustentabilidade, entre outros (TAVARES, 2014b, p. 13-24). 2.2. “Paradigma tecnocrático”: raiz última da crise ecológica Uma vez considerados os principais sintomas da crise ecológica global (LS, cap. I) e explicitada a perspectiva cristã da criação (LS, cap. II), papa Francisco se propõe a ver mais profundamente o que está acontecendo com nossa casa comum . Trata-se, em nossa opinião, de um ver duplamente críti- co. Ele é crítico, antes de tudo, por querer ir além dos fenômenos conside- rados meros sintomas. Mas o ver do papa é crítico, ademais, por se tratar de uma visão provocada e sustentada pela fé em seu legítimo desejo de lucidez
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