Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Sinivaldo S. Tavares 26 por sua vez, seria mais bem descrita como uma nova arte, um novo paradig- ma a pautar nossas relações com o sistema-Vida e com o sistema-Terra. Por essa razão, não entendemos aqui ecologia apenas como sinônimo de meio ambiente. A preocupação com o ambiente constitui uma das dimensões da ecologia compreendida a partir de uma visão sistêmica. Concebemos, portanto, ecologia como uma singular complexidade composta por quadro dimensões: ambiental, social, mental e espiritual/integral (BOFF, 2012). 2.1. Pressupostos e relevância A Ecoteologia, por seu turno, constitui uma espécie de ponte entre ecologia e teologia e vice-versa (MURAD, 2016, p. 205-237) e, portanto, é expressão daquele discurso regrado e articulado que procura deslindar as mútuas e recíprocas implicações entre os desafios postos pela atual crise eco- lógica e o anúncio do “evangelho da Criação” próprio da fé cristã. De um lado, a crise ecológica se apresenta como um dos mais urgentes e complexos desafios para a tarefa teológica atual. De outro, o “evangelho da Criação” constitui a utopia permanente das relações harmoniosas e ternas que busca- mos construir entre todos os seres, verdadeiros “filhos da Terra”, nossa casa comum . A Ecoteologia se propõe, assim, a tomar como ponto de partida a gravidade da crise ecológica fazendo com que as questões por ela postas irrompam no cenário teológico contemporâneo, impondo-se como os mais relevantes e urgentes apontamentos da agenda teológica atual. Nesse senti- do, a Ecoteologia acolhe os desafios postos pela crise atual, tão bem expressa nas palavras iniciais da Carta da Terra , documento assumido pela UNESCO e no qual aflora a consciência ecológica da Humanidade: “ Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a Humanidade deve escolher o seu futuro... ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida .” Imersos nessa precisa configuração, a Ecoteologia não pode se furtar às seguintes questões: é viável continuar nessa mesma direção imposta pelo paradigma contemporâneo do mercado e da tecnociência? O que fazer para que esse modelo da acumulação e do consumo, de crescimento linear e des- medido, seja desmascarado como principal responsável pela depredação dos recursos naturais e pela ameaça do futuro do ser humano e da vida das demais espécies do Planeta? Calar-se face aos desmandos do atual paradig- ma civilizacional ou, pior ainda, legitimá-lo seria uma posição eticamente responsável por parte da teologia?
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