Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Sinivaldo S. Tavares 22 vital”, um “conjunto de valores”, um “estilo de vida”. Com razão, fala-se hoje de uma “cultura midiática” (CASTELLS, 2003; LEMOS, 2002; PUN- TEL, 2005 e 2010). Conceber, portanto, a mídia como uma ambiência ou uma cultura implica dar-se conta de que, mesmo ostentando uma preten- sa neutralidade asséptica, ela não transmite informações de forma objetiva. No ato mesmo da transmissão ela constrói realidades, fazendo com que a “opinião pública” seja idêntica à opinião que se publica. E, ao fazê-lo, ainda que de maneira sutil, trai sua posição face ao que transmite. E isso se passa a despeito de sua tão propalada isenção. Tem se tornado impossível, portanto, uma experiência diferente da proposta pela mídia. E a combinação entre mercado e mídia tem se revelado profundamente eficiente; os interesses es- cusos do mercado são veiculados na mídia em seu caráter profundamente sedutor. Excelentes estudos têm mostrado uma forte cumplicidade entre mí- dia e mercado na criação e manutenção dos processos descritos acima, tais como: “absolutização do mercado”, “mercantilização da vida”, “fetichização da mercadoria” (MOREIRA, 2012). 1.2. A tecnociência como horizonte e ambiência O paradigma ocidental moderno se caracterizava, entre outras coi- sas, por um visível antropocentrismo, expresso na peculiar atitude de se colocar sobre as coisas, objetivando-as, e julgando-as alheias, porque, des- conectadas do ser humano, concebido como sujeito. A Modernidade reve- lou-se, assim, como um movimento que, a partir da centralidade do cogito cartesiano, foi desintegrando e pulverizando a índole mistérica do mundo, para que o ser humano pudesse concretizar cada vez mais seu intento de se tornar, para todos os efeitos, “le maître et le possesseur de la nature” (Descartes). Atestava-se, neste sentido, uma correlação entre “vontade de poder” do sujeito moderno e o “desencantamento do mundo” considerado apenas como objeto. As coisas passaram a ser vistas pelo ser humano apenas na sua utilidade. Preso, portanto, ao próprio interesse e à imagem de si, o ser humano ocidental passou a descuidar dos outros humanos e das criaturas, limitando-se a manter relações meramente funcionais e utilitárias. O cogito foi se sentindo sempre mais o raio de seu poder, sujeitando e subordinando tudo o que encontrava diante de si. Nessa perspectiva, o ser humano au- toafirmava-se em luta contra os outros, considerados estranhos e, portanto, objetos a serem submetidos ou eliminados.

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