Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Tecnociência e mercado sob o olhar da Ecoteologia 21 belecido apenas em função da força de trabalho e do tempo investidos na transformação da matéria-prima em produto. Nessa nova fase, os preços referem-se, sobretudo, ao acúmulo de conhecimento embutido no produto final a ser consumido. Verifica-se, portanto, mediante a queda do valor real dos produtos ma- teriais e o aumento artificial do valor de troca do imaterial, do simbólico e do cognitivo, o desmoronamento dos fundamentos da clássica economia política: conhecimento, trabalho material e capital (GORZ, 2005a; 2005b). Ingressamos assim em nova fase do capitalismo ocidental. Não mais capi- talismo de produção, mas agora capitalismo de consumo. Em tal contexto, compreende-se a busca frenética por mercantilizar tudo, mediante o exacer- bado inflacionamento das mercadorias visando ao consumo cada vez maior. Se antes, na era industrial, exigiam-se, na forte expressão de Michel Fou- cault, “corpos dóceis, disponíveis e úteis”, hoje interessam “almas capacita- das”, subjetividades munidas das qualidades mais cotadas e apreciadas no mercado de trabalho. Em sua nova fase, portanto, interessa ao capitalismo a produção de subjetividades consumidoras. E para incrementar o consumo e o apetite dos sujeitos consumidores é imprescindível que se invista no “fetichismo da mercadoria”. Tais processos têm se verificado sob o pressuposto da crescente supre- macia do mercado na administração dos fluxos vitais. Em nossos dias, tem se concebido e definido a vida como produto, uma simples mercadoria. Numa palavra, a vida tem se tornado mera invenção humana. E isso graças à inaudita capacidade do capitalismo do século XXI de operar um autênti- co sequestro simbólico das forças vitais. Ele não apenas captura tais forças como também consegue reciclar as resistências a esse sequestro mediante a produção de slogans publicitários e mercadorias a serem consumidas. Até mesmo nossas bandeiras alternativas tem se tornado objeto de publicidade e, consequentemente, reduzidas a mercadorias sedutoras. Com base em tais análises, o capitalismo neoliberal estaria ultimando sua hegemonia global. À medida que vem conseguindo transformar a vida e, portanto, também os valores e símbolos culturais e religiosos, em mercadoria de consumo e de descarte, o capitalismo neoliberal tem consolidado sua hegemonia sobre nossa inteira civilização. Falávamos acima de um processo de fetichização das mercadorias. A mídia se tornou, em nossos dias, um mundo do qual não se pode mais prescindir. O termo “mídia” não se caracteriza apenas pelo conjunto de ins- trumentos novos e mais sofisticados, mas ela tem se tornado um “ambiente

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