Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Sinivaldo S. Tavares 20 mações em curso: da economia de mercado à sociedade de mercado, da técnica como instrumento à emergência da tecnociência como horizonte e da comunicação como meio à mídia como ambiência. Essas três transforma- ções compõem uma engrenagem que tem posto em movimento a civilização contemporânea (TAVARES, 2014b, p. 382-401). Esta cumplicidade tem se revelado, além do mais, extremamente eficiente: por um lado, os interesses escusos do mercado se fazem sutilmente presentes na mídia em seu caráter profundamente sedutor e, por outro, só se constituem como tais os aparatos tecnológicos rentáveis no mercado. 1.1. Da “economia de mercado” à “sociedade de mercado”: uma grande transformação Constatamos um processo em curso descrito como “absolutização do mercado”. Trata-se daquela “grande transformação” descrita por Karl Po- lanyi como passagem da “economia de mercado” para a “sociedade de mer- cado” (POLANYI, 2000). O mercado vai se impondo sempre mais como cenário hegemônico de nossa trama civilizacional atual. Esta nova configu- ração produz um fenômeno correlato: a “mercantilização da vida”. Em que consistiria propriamente esse processo? Nossos fluxos vitais são reduzidos impiedosamente a simples mercadorias de consumo e de descarte. Analistas agudos tem se debruçado sobre esse fenômeno que tem acometido nossas sociedades contemporâneas (ASSMANN; HINKELAMMERT, 1989; MO SUNG, 1989; LIPOVETSKY , 2006; BAUMAN , 2008). A origem de tal fenômeno talvez deva ser buscada no bojo do ca- pitalismo ocidental em sua fase recente. Para caracterizá-la empregam-se os adjetivos: imaterial, simbólico e cognitivo. A imaterialidade remeteria à transformação da cultura material ocorrida no interior do próprio sistema capitalista. Exige-se, atualmente, cada vez menos trabalho para a confecção material dos produtos, fazendo com que o custo se fragilize e, portanto, o preço das mercadorias caia. Para conter essa baixa de preços, as empresas transformam seus produtos materiais em bens imateriais, afetivos, estéticos, simbólicos. Capitalismo simbólico porque o que conta agora não é tanto a utilidade prática do produto quanto o simbolismo do qual ele foi revestido pelo mercado e pela mídia. O que importa, no capitalismo atual, é investir no desejo subjetivo do consumidor de alcançar, mediante o consumo de determinados produtos, prestígio, personalidade, autoafirmação identitária. E, por fim, capitalismo cognitivo porque o valor da mercadoria não é esta-
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