Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Luiz Felipe Lacerda 196 mento, a um efeito rebote descomunal de desemprego, pobreza e violência. Trata-se muito mais de uma provocação a pensar uma transição planejada e paulatina para um estilo de vida menos consumista, reajustando as deman- das de consumo da sociedade a partir de necessidades reais das populações e possibilidades concretas do meio ambiente. Assim, se nalguns casos o desenvolvimento sustent á vel implicar á novas modalidades para crescer, noutros casos – face ao crescimento ganancioso e irrespons á vel, que se verificou ao longo de muitas d é- cadas – devemos pensar tamb é m em abrandar um pouco a marcha, p ô r alguns limites razo á veis e at é mesmo retroceder antes que seja tarde. Sabemos que é insustent á vel o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez mais, enquanto outros ainda n ã o po- dem viver de acordo com a sua dignidade humana. Por isso, chegou a hora de aceitar um certo decr é scimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saud á vel noutras partes (LS, 193). Por fim, a terceira experiência que gostaríamos de socializar enquanto perspectiva teórica e prática de discursos de transição paradigmática, assim como a ecologia integral, ao nosso entender, e que dialoga justamente com os apontamentos realizados tanto operacionalmente no que concerne à jus- tiça socioambiental, quanto conceitualmente, no que se refere ao Bem Viver e ao decrescimento denomina-se Ecosofia. A Ecosofia nasce no âmbito da filosofia da diferença, em alguns espa- ços também denominada de esquizoanálise, e sistematiza um apanhado de críticas que vão de encontro, desde a concepção determinista da formação da subjetividade humana propagada pela psicanálise ao longo da moderni- dade, passando pela desconstrução conceitual da sociologia estruturalista, inclusive atingindo algumas bases de sustentação da Sociologia Crítica e da Escola de Frankfurt, chegando até uma leitura contemporânea da moderni- dade onde critica duramente os modos capitalistas de ser e de viver. Gilles Deleuze e Félix Guatarri são expoentes desta corrente teórica e bebem em fontes como Foucault, Nietzsche, Schopenhauer e Espinoza. Com estas inspirações é que, em 1995, Felix Guatarri, no livro As três ecolo- gias, apresenta uma leitura efetivamente semelhante à contextualização pro- movida pela Encíclica Laudato Si’ sobre nosso cenário atual. Nele, o autor expõe que o que realmente está em jogo é a efetiva capacidade de manter a vida humana no planeta, com o avanço da tecnologia aliada a uma eco- nomia predadora e afirma que chegará um momento que apenas uma res-
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