Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Ecologia Integral, justiça socioambiental e bem viver 193 gicas, almejam efetivamente uma transição paradigmática que, como resul- tado final, não enquadrasse nas perspectivas de manutenção ou mesmo de reformismo do sistema vigente. Para aqueles que este posicionamento e aquilo que ele almeja possam parecer inatingíveis (romantismo teórico), sugerimos que leiam sobre Uto- pia em Castro (2011); Alcantara e Sampaio (2017), Veloso (2011), sobre Pe- dagogia da Esperança (FREIRE, 1992) e sobre Razão Proléptica e a Crítica a Razão Indolente (SANTOS, 2002). Tratamos assim de, sucintamente, apresentar algumas perspectivas que se encontram deste outro lado da linha paradigmática – o lado da transição do sistema vigente – e que, embasando-se em algumas perspectivas factíveis, abrem caminho, estendem a mão e dão apoio aos passos almejados pela ecologia integral. Entre esse discurso, efetivamente no contexto latino-americano, des- taca-se a ideia de Bem Viver derivativa dos povos tradicionais dos Andes. Apesar de originar-se nas cordilheiras do continente, o ideário de Bem Viver logo desce as montanhas e ressoa nas perspectivas de abundância, espiritua- lidade e ancestralidade das culturas amazônicas. Neste sentido, é indispens á vel prestar uma aten çã o especial à s comuni- dades abor í genes com as suas tradi çõ es culturais. N ã o s ã o apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avan ç a com grandes projetos que afetam os seus espa ç os. Com efeito, para eles, a terra n ã o é um bem econ ó mico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espa ç o sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores. Eles, quando permanecem nos seus terri- t ó rios, s ã o quem melhor os cuida. Em v á rias partes do mundo, por é m, s ã o objeto de press õ es para que abandonem suas terras e as deixem livres para projetos extrativos e agropecu á rios que n ã o prestam aten çã o à degrada çã o da natureza e da cultura (LS, 146). Foi no início do século XXI que o conceito de Bem Viver passou a to- mar a cena latino-americana e internacional, apesar de sua presença enquan- to significado ser milenar entre os povos originários, como o suma qamaña em Aymara bolivariano, o sumak kawsay em Quéchua equatoriano, também shiir waras do povo Ashuar da Amazônia e ñande reko de alguns guaranis da Bolívia e Paraguai. A aliança destas perspectivas em torno da ideia de Bem Viver toma força no contexto das Constiatuintes de Bolívia e Equador e representam uma manifestação legítima do povo e dos movimentos sociais

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