Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2
Ecologia Integral, justiça socioambiental e bem viver 191 suas múltiplas dimensões, não geraram as suficientes mudanças estruturais ao ponto de não abalarem os pilares que estruturam tais desigualdades. Inva- riavelmente necessitamos de uma transição paradigmática socioambiental. Para que apareçam novos modelos de progresso, precisamos de «conver- ter o modelo de desenvolvimento global, e isto implica refletir respon- savelmente «sobre o sentido da economia e dos seus objetivos, para cor- rigir as suas disfunções e deturpações. Não é suficiente conciliar, a meio termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integral- mente superior, não se pode considerar progresso. (LS, 136-137). As palavras do papa Francisco são claras ao afirmar que não basta buscarmos perspectivas conciliatórias que mantêm os princípios economi- cistas vigentes de maneira imperial, mascarando ou desacoplando os da- nos ambientais produzidos pelo sistema. Esta afirmativa é de fundamental importância para estarmos atentos aos diferentes discursos que rondam o tema socioambiental. Existe, no contexto atual, um significativo número de discursos que se apropriam de conceitos específicos em prol de finalidades outras que não a referida justiça socioambiental, como o caso da economia verde, da modernização ecológica, do crescimento sustentável, ou mesmo da economia circular em alguns contextos. Hopwood e O’Brien (2005) produziram um brilhante e muito pro- fundo estudo sobre os diferentes tipos de discursos que usualmente se en- contram na área socioambiental. Os autores separam estes discursos basica- mente em três grandes categorias: a) aqueles que buscam manter e legitimar o Status Quo desenvolvimentista/materialista como o caso do desenvolvi- mento sustentável, da modernização ecológica e dos mercados de carbono; b) os Reformistas , que defendem a ideia de um cuidado mais aprofundado com a natureza, mas sob a primazia da economia, como o caso das Empresas B, as economias circulares e algumas facetas da modernização econômica que acreditam que a economia não deveria parar e, com o investimento na tecnologia, em um determinado momento, essa inteligência artificial poderá sanar nossos desafios ambientais; c) por fim, os discursos de Transição , que aportam de fato a perspectiva de um outro paradigma anticapitalista e pós-
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