Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Luiz Felipe Lacerda 184 Na medida em que logramos sistematizar os princípios basilares do pa- radigma da ecologia integral, podemos perceber dimensões gerais onde estes princípios operam. Evidentemente poderíamos adotar diversos parâmetros para indicar distintas dimensões por onde se pode perceber a efetivação dos princípios e perceptivas operativas da ecologia integral. Assim, apresentamos alguns recortes metodológicos. Estes recortes compactuam a percepção de que as dimensões são meta-campos, macroespaços, onde podemos operacionalizar determinado conceito. Nossos indicativos conceituais, nestes parâmetros, aproximam- -se das teorias que analisam as relações de poder em nossa sociedade, desde Weber (1992), Marx (1973) e Foucault (1987), passando pela Escola de Frankfurt e a Sociologia Crítica, até as atualizações contemporâneas de Giddens (1998), Guattari (1990), Gohn (1997), Polanyi (2000) e Santos (2002). Surpreendentemente, uma análise detalhada da gênese e das atualiza- ções destas teorias supracitadas no tocante aos espaços onde se estabelecem as relações de poder e, portanto, onde devemos operacionalizar qualquer intervenção que almeje uma transformação paradigmática, dialogam dina- micamente com os espaços, ambientes, perspectivas e dimensões descritas na Encíclica Laudato Si’ (2015) como alvo direto de necessárias conversões. Esta percepção analítica nos permite indicar que a ecologia integral, implicando na efetivação dos princípios anteriormente citados, pode opera- cionalizar-se nas seguintes dimensões: A. Dimensão Cotidiana (individual e comunitária): refere-se às práticas circunscritas em nossos cotidianos, nas formas como estabelecemos relações com o que produzimos e consumimos, conosco mesmo, com os outros e com o ambiente que nos cerca. Inscreve-se naquilo que papa Francisco no- minou Ecologia da Vida Cotidiana e sugere uma Conversão Interior: Para se poder falar de autêntico progresso, será preciso verificar que se produza uma melhoria global na qualidade de vida humana; isto im- plica analisar o espaço onde as pessoas transcorrem a sua existência. Os ambientes onde vivemos influem sobre a nossa maneira de ver a vida, sentir e agir. Ao mesmo tempo, no nosso quarto, na nossa casa, no nos- so lugar de trabalho e no nosso bairro, usamos o ambiente para expri- mir a nossa identidade. Esforçamo-nos por nos adaptar ao ambiente e, quando este aparece desordenado, caótico ou cheio de poluição visível e acústica, o excesso de estímulos põe à prova as nossas tentativas de desenvolver uma identidade integrada e feliz (LS, 147).

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