Ecologia Integral: abordagens (im)pertinentes - volume 2

Ecologia Integral, justiça socioambiental e bem viver 179 o estilo de vida e as relações que devemos estabelecer entre nós mesmos e entre nós e tudo o demais que também é vivo (Souza, 2016; 2017). Basicamente acabaram polarizando-se coletivos literalmente constituí- dos pela primazia dos princípios que nossos sistemas preconizam hegemoni- camente como a competição, a eficiência, a lógica racional, o materialismo e o tecnicismo, por consequência a própria egolatria. De outro lado, aqueles que, por algum motivo, em sua trajetória de vida foram afetivamente toca- dos por experiências próprias ou por vivências de terceiros (indivíduos ou coletivos), em uma situação socioambiental transformadora, desencadeando tendências para o desenvolvimento de habilidades humanas como empatia e altruísmo social. Uma semente do que Leff (2001) tentou abarcar como nascimento de uma racionalidade ambiental. A referida polarização sociopolítica e a decorrente ascensão dos repre- sentantes deste primeiro grupo aos escalões deliberativos dos três poderes nacionais consolidaram, no Brasil atual, um belíssimo exemplar da crise socioambiental global com o tripé: ameaça aos direitos humanos, regres- são dos direitos sociais e aumento da degradação ambiental (ANISTIA IN- TERNACIONAL, 2020; REDE SOCIAL DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS, 2020; INPE, 2019). Estando frente a uma crise civilizatória sem precedentes, o único ca- minho possível à manutenção da vida, nossa e do planeta, é uma profunda transição paradigmática. “Se os desertos exteriores se multiplicam no mundo é porque se estenderam também os desertos interiores” e, assim, a atual crise é um chamado para uma profunda conversão. Dentro da polifonia contem- porânea, a ecologia integral, englobando inúmeros saberes e perspectivas sistêmicas, apresenta-se como um caminho promissor (LS, 217). 2. Ecologia Integral: princípios, dimensões e vetores transversais A ecologia integral acaba por referir-se a uma proposta de transição paradigmática, necessariamente urgente à humanidade. Podemos identificar alguns princípios predominantes nesta proposta 3 : 3 A percepção, construção e sistematização destes princípios é fruto de um processo coletivo de vivências e reflexões nossas, desenvolvidas nos últimos anos em diferentes âmbitos e com dife- rentes atores dos campos acadêmicos, sociais, políticos, eclesiais e dos povos tradicionais.